São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Noz moscada asiática ganha o mundo

HAMILTON MELLÃO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Deu na Folha há algum tempo. O diretor do presídio Maggiore, em Roma, estranhou o súbito interesse por culinária despertado nos presos sob sua guarda. Chegavam quilos de noz moscada, pedidos por eles em suas compras.
Mas, numa rápida verificação, ele descobriu que a noz era na verdade ralada e depois fumada, usada como psicotrópico.
Antes que algum maluco faça a tentativa, a noz deve ser acrescentada a uma outra substância para dar ``barato". Esta é uma das características do fruto da moscardeira (``Myristica fragans"). Em pequenas quantidades, é levemente sedativo e auxilia a digestão, mas em grandes doses é tóxico, podendo ser até mortal.
Originária das Ilhas Molucas, na Indonésia, a noz moscada foi achada entre outras especiarias no interior dos sarcófagos egípcios, o que prova cabalmente um comércio de longa rota, devido à distância entre as duas regiões, feito pelos intrépidos etruscos com seus pequenos barcos de junco.
Era muito usada pelos romanos, que a colocavam em seu ``Garum", molho que acompanhava praticamente tudo em sua cozinha.
Foi com esta especiaria que eles, então com o império totalmente esfacelado, cobriram todas as ruas por onde iria passar Henrique 6º em Roma, agradecidos por sua ajuda contra os mouros, e o receberam da melhor maneira que podiam, perfumadamente.
Os portugueses foram os primeiros a explorá-la comercialmente. A partir de 1512, traziam-na da Indonésia e vendiam-na através de Florença para a Europa toda.
Seu custo na época era altíssimo. Era prova de riqueza colocá-la em doses elevadas em todos os pratos, o que ajudava a atenuar a podridão das carnes e torná-las mais palatáveis.
Aos poucos, começou a ser plantada em outras regiões, tornando-se mais barata e entrando para o receituário popular de quase todos os países. É, por exemplo, item obrigatório do tradicional molho bechamel.
É usada também em queijos, tortas, bolos, carnes e bebidas quentes. Casa-se admiravelmente bem com espinafre e batata. Experimente adicioná-la a um creme de espinafre ou a um purê de batatas; o resultado será surpreendente.
Na hora de comprá-la, escolha as menores, que são as fêmeas e têm um perfume mais pronunciado que as maiores, que são os frutos machos.
Mas, se quiser sutileza, use o macis, que é a película que envolve a noz moscada. Difícil de ser achado no mercado paulista (numa lacuna dos importadores), é usado principalmente em doces.
A noz é envolvida por uma película branca, o leite de cálcio, que a protege contra os insetos, também apreciadores de seu gosto. Por isso, é importante armazená-las bem fechadas.
Uma das maiores bobagens feitas pelos embaladores de especiarias é vendê-la já moída, pois seu princípio ativo se evapora rapidamente. Por isso, deve ser ralada sempre na hora do uso.
Nestes dias frios, é indispensável para se fazer um reconfortante vinho aromatizado. Toma-se uma garrafa de vinho tinto, de preferência um cabernet sauvignon e leva-se à ebulição com uma colher de sopa de açúcar e uma colher de café de noz moscada ralada.
Bate-se à parte quatro gemas de ovo com dois copos do vinho. Adiciona-se lentamente os ovos ao vinho já amornado, mexendo-se a mistura continuadamente. Quando a mistura começar a encorpar, é só colocar em xícaras grandes e servir.

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