São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Funcionário da ONU pode ser refém

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Sérvios da Bósnia são suspeitos de terem tomado como refém um funcionário civil das Nações Unidas que trabalhava em Banja Luka (120 km ao norte da capital bósnia, Sarajevo).
"Perdemos contato com um funcionário do serviço civil em Banja Luka", disse Alexander Ivanko, porta-voz da ONU (Organização das Nações Unidas).
A agência "DPA" identificou-o como o sueco Goran Stigmar. "Não temos contato com ele há 48 horas", disse Ivanko em Sarajevo.
O trabalho do desaparecido era ajudar a abrigar e alimentar refugiados civis em Banja Luka, palco de algumas das piores violações de direitos humanos na guerra que já dura 37 meses na Bósnia.
Os sérvios mantêm desde a semana passada cerca de 370 reféns, soldados e observadores da ONU, entre eles dois brasileiros. Se o caso do sueco for confirmado, será o primeiro refém civil da ONU.
"Qualquer tentativa de libertá-los à força terminaria em catástrofe. Haveria uma chacina", disse Radovan Karadzic, líder dos sérvios da Bósnia, que controla 70% do país e recusa um plano de paz que o divide ao meio com o governo de maioria muçulmana.
Os reféns da ONU foram capturados como represália a ataques aéreos sobre posições sérvias. Alguns foram algemados, como "escudos humanos", a possíveis alvos de novos ataques.
Os bombardeios foram lançados de aviões da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, a pedido da ONU. A ação foi uma retaliação por ataques contra Sarajevo, declarada "área protegida".
Mais de 22 mil soldados da ONU na Bósnia têm como missão a defesa de civis nessas áreas. Ontem pesados combates irromperam em outra "área protegida", o encrave muçulmano de Gorazde.
Tropas bósnias lutavam com rebeldes sérvios pelo controle de linhas de defesa abandonadas pela ONU, depois que 38 reféns foram capturados na região.
Segundo observadores, houve 350 explosões em torno da cidade de Gorazde, centro do encrave onde vivem cerca de 60 mil civis.
Em 1994, Gorazde foi vítima de uma ofensiva sérvia maciça, que só pôde ser interrompida com ataques da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Diplomatas descartaram novos bombardeios, por temor de represálias contra os reféns. "Não devemos negociar a questão dos reféns. Devemos exigir sua libertação incondicional, disse Ivanko.
O secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, também rechaçou a proposta de negociação feita pelos sérvios, que exigem "garantias de segurança" para libertar os reféns.
As garantias podem ser interpretadas como uma promessa de que a Otan não fará mais bombardeios.
Membros da aliança militar, França, EUA e Reino Unido, anunciaram reforço de seu contingente de tropas na região dos Bálcãs com até 20 mil homens.
Segundo o comandante das tropas da ONU na Bósnia, Rupert Smith, os 1.200 soldados britânicos que já chegaram à região não vieram apenas facilitar a retirada de tropas da ONU.
Em Sarajevo, sérvios dispararam um míssil contra um jato da Otan que sobrevoava a cidade.

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