São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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FHC adota estilo de dividir para reinar

ANDREW GREENLEES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso já deixou claro seu estilo para administrar a relação com ministros, auxiliares e aliados políticos: nunca contar tudo para uma única pessoa.
Em outras palavras: FHC não quer saber de ninguém assumindo o papel de primeiro-ministro, que ele teve no governo Itamar Franco.
Surgiram assim diferentes instâncias de poder, nenhuma dona da hegemonia do ouvido presidencial. É a tradução da máxima política de dividir para reinar.
O grupo palaciano tem a vantagem da proximidade física ao gabinete de FHC. Todos os dias, pela manhã, o presidente reúne-se com Eduardo Jorge Caldas Pereira, secretário-geral da Presidência, e Clóvis Carvalho, ministro-chefe da Casa Civil. Os dois coordenam a burocracia do palácio, enquanto Carvalho tem também a função de cobrar a ação dos ministros.
A grande quantidade de informações que Eduardo Jorge detém e o estilo duro de Carvalho rendem à dupla atritos cotidianos na Esplanada dos Ministérios.
Nas reuniões ministeriais e setoriais, por exemplo, Carvalho costuma interromper falas mais longas. Não raro, quem está falando é o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, outro dos homens-fortes do governo.
No primeiro escalão é possível ouvir resmungos sobre o tempo que Eduardo Jorge e Carvalho passam com FHC. Mas ministros e lideranças políticas já aprenderam que, apesar do acesso direto ao presidente, Eduardo Jorge e Carvalho podem ser driblados.
Basta um telefonema direto ao gabinete de FHC. Na grande maioria das vezes, se não houver resposta imediata, virá uma ligação de retorno poucas horas depois.
Líderes governistas no Congresso já ouviram mais de uma vez o comentário de aliados: é mais fácil falar com o presidente do que com diretores de bancos oficiais e empresas estatais.
Pedro Malan, da Fazenda, é um dos ministros que mais falam pelo telefone ou pessoalmente com o presidente ao longo do dia. Fiel ao objetivo de evitar a repetição do governo Itamar, FHC tem tratado nos últimos tempos de estimular o equilíbrio entre as forças de Malan e José Serra, do Planejamento.
Conhecendo o estilo ``trator" de Serra, FHC gostou de ver, há algum tempo, o PFL oferecer um jantar em homenagem a Malan. E, ao aceitar a saída de Pérsio Arida do Banco Central, o presidente tirou um problema do caminho de seu ministro da Fazenda.
FHC também apressou-se em mandar, durante sua viagem aos EUA, em abril, duro recado a Sérgio Motta, que andava falando demais sobre outras áreas do governo, no episódio da ``masturbação sociológica".
O presidente não queria auxiliares dando palpites fora de suas áreas, avisou o porta-voz Sérgio Amaral, outro que, ao lado da assessora de imprensa Ana Tavares, tem acesso pessoal diário ao gabinete presidencial.
Serra, Sérgio Motta e Malan são membros de outro grupo de poder. É a ``turma do Alvorada": pessoas que têm acesso a reuniões e jantares mais descontraídos -inclusive nos finais de semana- na residência oficial. Incluem-se aí o ministro Paulo Renato, da Educação, Vilmar Faria -intelectual próximo a Ruth Cardoso-, e o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, José Gregori, entre outros.
Na área política, FHC tem trocado idéias com os governadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Antônio Britto (PMDB-RS).
O presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL), é outro nome em ascensão no Planalto, enquanto o ex-senador tucano José Richa recebe missões informais na articulação política de FHC. Mas, mais uma vez, nada de apontar oficialmente um coordenador político ou primeiro-ministro.

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