São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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PSDB não quer se coligar com PFL em 1996

JOMAR MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PSDB não quer saber de coligação com o PFL nas eleições municipais de 1996 e deve disputar as prefeituras dos 300 maiores municípios, onde estão concentrados mais de 70% do eleitorado.
A opção, ainda não comunicada oficialmente, já foi tomada pelos líderes do partido. Em agosto, ela deverá ganhar novo impulso nas convenções municipais da legenda, as quais pela primeira vez se realizam em todos os Estados.
``O PSDB se convenceu de que jamais será a voz mais forte no governo se não tiver grandes bancadas no Congresso, assembléias e câmaras de vereadores", afirma o vice-presidente do partido, senador Carlos Wilson (PE).
``Na aliança federal somos o terceiro partido e isso explica porque o presidente da República, mesmo sendo do PSDB, tem de dar atenção especial ao PFL, sua maior base no Congresso", diz.
Obrigado a administrar interesses divergentes dos partidos aliados, Fernando Henrique Cardoso tenta demonstrar imparcialidade e evita interferir diretamente nos planos de crescimento do PSDB.
Em algumas ocasiões, tem até se manifestado em favor da manutenção da aliança PSDB-PFL no âmbito municipal. Mas a estratégia de fortalecimento dos tucanos tem raízes dentro do próprio governo.
Tornou-se rotina a reunião da Executiva do PSDB no gabinete do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, toda quinta-feira.
É nesse encontro, onde a voz do ministro quase sempre se sobrepõe à dos dirigentes partidários, que se detalha o cerco a parlamentares em busca de adesões e se traça o caminho de acesso às prefeituras.
``Em fevereiro tínhamos uma bancada de 62 deputados. Hoje já somos 72", festeja o líder na Câmara, José Aníbal, autor da idéia de centrar fogo nos 300 maiores municípios do país.
Crescer e ganhar espaço dentro do governo, porém, é uma desafio que o PSDB enfrenta em meio a conflitos internos e contradições que ameaçam fazer do partido, no futuro, um novo PMDB.
Nas votações da reforma da Constituição, o PSDB também está otimista -foi este o quadro que Aníbal passou a FHC em telefonema na tarde de sexta-feira.
Aníbal acredita que o governo poderá ter até mais votos favoráveis à emenda que flexibiliza o monopólio estatal do petróleo do que na vitória obtida com a emenda das telecomunicações -348 votos, 40 além do necessário.
Os fatos poderão confirmar a previsão do líder, mas até lá ele terá de contornar muitos problemas em sua própria bancada.
``O PFL usou o governo e conseguiu colocar em votação todas as suas teses históricas", queixa-se o deputado Domingos Leonelli (PSDB-BA): ``Eu entendo que o PSDB deve ser a cabeça da esquerda democrática e não o rabo da direita".
Leonelli, membro de uma seção regional que em 94 apoiou Lula -depois que FHC aliou-se a Antônio Carlos Magalhães-, foi um dos oito deputados que votaram contra o governo na quebra do monopólio das telecomunicações.
Desse grupo, três já prometeram a Aníbal votar com o governo na decisão sobre o monopólio do petróleo. Mas o líder dá como perdida a tentativa de convencer aliados como o deputado Almino Affonso, vice-líder do governo.
Almino, que sedimentou sua carreira na campanha pelo monopólio do petróleo, nos anos 50, recusa-se a rasgar sua biografia.
Outros gestos de indisciplina são mais fáceis de contornar. O único deputado do PSDB goiano, Jovair Arantes, reclama porque três ministros foram ao seu Estado e lá só procuraram o governo do PMDB: ``Estou extremamente contrariado". Mas ele só admite ficar contra o governo na votação das emendas da Previdência e reforma administrativa.
Até o deputado Wilson Campos, pai do vice-presidente do PSDB, senador Carlos Wilson, insatisfeito com os acenos de FHC ao prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos, ameaçou sair do partido. Motivo: não quer Jarbas no PSDB.
A situação foi contornada pelo filho na noite seguinte, durante jantar no Palácio da Alvorada. ``Presidente, deixe que eu administro isso junto a meu pai", prometeu o senador. Carlos Wilson não tocou mais no assunto.

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