São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Sobra dinheiro mas faltam médicos na rede

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A gestão de Paulo Maluf na área da Saúde está produzindo um estranho fenômeno: sobram milhões de reais nos cofres da secretaria de Saúde, mas faltam médicos, as filas nos hospitais continuam enormes e os pronto-socorros têm pacientes pelo chão.
O ano passado foi exemplar. O orçamento para a área era de R$ 512 milhões. Foram gastos R$ 364 milhões. O restante foi transferido para ``outras prioridades".
Nunca houve tanto dinheiro -pelo menos no papel- para a Saúde. Do megaorçamento deste ano, Maluf destinou ao setor R$ 674,3 milhões, ou 13%. Até abril, só foram gastos 16% desse montante.
Esses R$ 674,3 milhões ultrapassam em muito os gastos de Erundina em Saúde no seu último ano de governo (R$ 326 milhões).
Com esse dinheiro, seria possível construir 33 hospitais de grande porte na cidade, cujo preço estimado é de R$ 20 milhões. Eles se somariam aos 15 já existentes.
Na verdade, novos hospitais se mostrariam inúteis na atual situação da Saúde. Hoje, existem 1.515 leitos desativados na rede municipal, segundo levantamento do Sindicato dos Médicos de São Paulo, ligado à CUT.
``A verba para a saúde na cidade é absolutamente satisfatória e a rede de hospitais públicos é a maior da América Latina. Falta apenas um gerenciamento competente", afirma o presidente do sindicato, Tito César Nery.
Na mesma linha, o médico e vereador Nelson Proença (PSDB) diz que há ``uma distância enorme entre o orçamento destinado à saúde e a realidade dos hospitais e pronto-socorros".
``A maior parte das unidades de saúde da prefeitura está praticamente desativada por falta de pessoal. Falta do médico ao operador de raio X", diz o tucano.
Médicos
Segundo o ex-secretário da Saúde, Silvano Raia, a prefeitura chegou a perder uma média de seis médicos por dia no segundo semestre do ano passado.
No último ano da gestão Erundina, havia 7.320 médicos na rede -o sindicato afirma que eram 8 mil. Hoje, são apenas 6.894, segundo a prefeitura.
Raia culpava os baixos salários pela evasão. Um projeto de lei de aumento salarial foi enviado à Câmara, mas demorou meses até ser aprovado, no final de 94.
A oposição obstruiu a tramitação, alegando que o aumento deveria ser dado para todos os profissionais da Saúde.
O salário base de um médico do município hoje é R$ 388,02 por 20 horas de trabalho semanais. Com alguns adicionais, a média chega a R$ 600,00. O sindicato reivindica R$ 998,00.
A falta de pessoal não se restringe aos médicos. Há escassez também de enfermeiros e de auxilares de enfermagem.
Segundo a prefeitura, há grande demanda por profissionais dessas duas categorias também por parte dos hospitais privados, que pagam melhores salários.
``Nós formamos o profissional e, em pouco tempo, eles são contratados por outros hospitais", diz Thomaz Antonio de Almeida, diretor do hospital do Jabaquara.
Para Raul Cutait, que foi secretário de Saúde nos primeiros seis meses da gestão Maluf, os médicos têm baixa produtividade.
``Há uma cultura de que os médicos especializados só podem atender pacientes na sua área. É comum na prefeitura ver clínicos gerais sobrecarregados enquanto outros médicos não fazem nada."

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