São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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`Quem pára no PS está ferrado'

Caixa na parede com ficha do doente `internado' no corredor

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O motorista Claudivam Venturini, 34, corria gritando pelos corredores do PS do Mandaqui (zona norte) na última quinta-feira.
Nas mãos, ele levava o raio X de sua mulher, Élida, 30, que acabara de vomitar sangue sentada em um banco de espera. ``Quem pára aqui está ferrado", dizia.
Venturini havia estado com a mulher no pronto-socorro no dia anterior. Esperou quatro horas para ser atendido e foi dispensado. ``A médica disse que a Élida estava com um resfriado forte."
Durante a noite, a mulher piorou e ele voltou com ela, de manhã, para o Mandaqui. Ela foi submetida a exames e aguardava o resultado deitada no banco.
O motorista diz que foi maltratado pelos médicos. ``Eu disse a um deles que não era gripe o que ela tinha e ele perguntou quem de nós dois estudou medicina."
Para Venturini, o atendimento público é ``terrível". Ele lembra que há cinco anos foi internado no mesmo local após um dos seus testículos começar a inchar depois de ser acertado por uma bolada.
``Depois de onze dias, eu pedi para ir para um hospital privado. Ali, os médicos disseram que se eu fosse tratado não seria necessária a extração, mas que naquela hora não havia mais jeito", diz.
O eletricista aposentado Pedro Leôncio Sant'Ana, 66, também reclamava do atendimento do pronto-socorro na tarde de quinta-feira.
``Entrei aqui às 8h e só fui atendido às 17h", disse ele, deitado em uma maca no corredor.
O PS do Mandaqui institucionalizou o corredor como enfermaria. Caixas para colocar os exames e raios X dos pacientes foram presas às paredes, ao lado das macas.
Durante a visita, a reportagem da Folha presenciou algumas consultas. Elas duravam, em média, dois minutos.(LHA)

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