São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Virgens da 3ª idade esperam `príncipe'

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sexo faz falta? Algumas mulheres que passam dos 60 anos sem nunca ter experimentado defendem que é possível ser feliz sem ele.
Promessas não cumpridas, morte do pai ou da mãe, desilusões amorosas e passagens por conventos levam algumas mulheres a abdicar da vida a dois.
Como qualquer adolescente, porém, elas ainda sonham em subir ao altar ao lado de um príncipe encantado, ``honesto e divertido".
A manicure Amélia C., 67, conheceu seu primeiro e único namorado em um baile de formatura no antigo Clube de Campo de Piracicaba em 1947.
``Tinha 19 anos e foi amor à primeira vista", lembra. Naquela noite, Antônio Augusto, o pretendente, reservou todas as vagas do caderno de danças de Amélia e pediu autorização ao pai da moça para namorá-la. ``Ele aceitou sem pestanejar, eu estava perto dos 20 e já estava ficando para tia", diz.
Depois de um namoro de dois anos, Antônio morreu eletrocutado. ``Tinha jurado amor eterno a ele na noite anterior à sua morte e nunca mais me interessei por outro homem", conta Amélia.
Hoje, ela garante que não sente falta de um companheiro.``Agora, as pessoas acham que sexo é tudo, mas não é. Sou virgem, vivo em paz comigo mesma e ainda tenho esperança de conhecer alguém que me motive como o Antônio."
A capixaba Joaquina Rezende, 84, virou notícia semana passada ao acusar o pedreiro Geraldo Brás, 62, de tê-la estuprado. O exame de corpo de delito confirmou que ela tinha perdido a virgindade.
Depois que o pedreiro foi preso, Joaquina contou que Geraldo era seu amante. Segundo ele, os dois brigaram porque Joaquina fazia questão de se casar.
Para evitar problemas como esse, a ex-freira Odete dos Santos, 65, quer se guardar até o casamento. ``Ouvi queixas no convento e sei que poucos homens prestam", diz. ``Deixei o hábito, para adotar uma criança que a mãe morreu no parto depois de levar uma surra do marido."
A carreira de enfermagem e a filha advogada são o orgulho de Odete. ``Sou mais feliz do que várias amigas casadas. Não tenho um marido chato que reclama de dor nas costas para me atormentar."
Frequentadora assídua de bailes de 3ª idade, Odete ainda não perdeu a esperança de encontrar um homem ``honesto e divertido" que queira se casar com ela.
``Quando ele aparecer, compro um vestido de noiva, caso, fico bêbada de champagne e vou para a cama feliz."
Falta de sexo também não impediu que a professora primária Cândida Maria Lopes, 72, fosse feliz.
``Fui noiva três vezes, mas acabei solteira", diz. ``Não me fizeram falta. Meu pai me fez companhia até sua morte e hoje me divirto à custa de meus sobrinhos."
Cantora do coral da igreja de seu bairro, Cândida sonha um dia casar-se ao som de ``Ave Maria" entoada por suas colegas. ``Minha cara metade existe e ainda vou encontrá-lo", acredita.
Aos 75 anos, a carioca Maria de Lourdes C. cansou de esperar. ``Pedi a minha sobrinha radialista que anunciasse meu nome em seu programa para ver se apareciam pretendentes."
Caçula de uma família de oito irmãos, coube a Lourdes cuidar de sua mãe diabética depois de morte de seu pai. ``Quando minha mãe morreu, já estava com 46 anos e desisti de partir para aventuras. Acho que agi da melhor forma, mas gostaria de encontrar um companheiro. Tenho idade, mas sou curiosa de saber como é."

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