São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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DEPOIMENTO

``A regra hoje é se você gosta do homem vai com ele para a cama. Mas eu não fui criada assim. Meu pai era um homem muito aberto, conversava muito com os filhos. Quando eu tinha 11 anos ele me levou para assistir ``La Traviata" no teatro. Quando saímos ele disse `viu? moça que namora muito não casa'. E eu fiquei com aquilo na cabeça.
Tive alguns namorados. E até um grande amor por oito anos. Foi o amor da minha vida. Mas ele era judeu e eu católica e na hora de nos casarmos a mãe dele se pôs no meio e acabou não dando certo.
Nosso namoro era inocente. Ele me mandava flores quando estava estudando na Europa, me telefonava. Trocamos alguns beijos, mas era diferente, um beijo de rosto, um encostar dos lábios. Não era esse negócio de língua que tem hoje. Desse, nunca fiz.
Depois que meu pai morreu fui trabalhar em um hospital e criei meus três irmãos mais novos. Sou feliz, realizada. São meus filhos.
Sexo nunca me fez falta, nunca tive desejo por um homem. Na verdade, fui saber o que era o ato sexual, dez anos atrás, quando me mostraram um livro pornográfico.
Foi um choque. Pensei: mas a mulher faz isso? Lambe, põe na boca? E se tiver sífilis? Agora com a Aids é que fechei a perna de vez! Com ou sem camisinha, não quero!
Já pensei em me casar. Mas acho que para uma mulher de 60 sobram o desquitado, que não dá certo com ninguém, o filho único, que morou com a mãe e é cheio de manias, e o viúvo, que vive em função da falecida.
Se aparecer um homem rico, que não tenha problemas graves de saúde, seja alegre como eu e que queira viver, viajar, passear, eu caso. Enfrento a família e subo no altar. Sonho com isso."
Maria Caprera, 60, é aposentada.

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