São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Cesta básica sobe 4,84% em um ano em São Paulo

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Medida apenas pela evolução do custo da cesta básica Procon/Dieese em São Paulo, a inflação brasileira estaria hoje num padrão de Primeiro Mundo.
Em relação a 30 de junho de 94, véspera do Real, quando os reajustes dos preços se aceleraram ainda mais, houve queda de 5,02%.
O encarecimento da cesta básica para os paulistanos foi bem maior na fase anterior ao Real.
Enquanto nos últimos 12 meses a variação foi de 4,84%, salta para 28,95% se o período de comparação for estendido para dois anos. Em 31 de maio de 93, ainda com preços convertidos em URV, a cesta custava R$ 78,37.
Alimentação variou 5,30% em um ano e 29,40% em dois, produtos de limpeza 1,12% e 23,82% e artigos de higiene pessoal, 31,11% e 5,03%, respectivamente (ver os produtos no quadro abaixo).
As taxas de inflação em 12 meses e após o Real são bem mais elevadas porque a cesta básica é amostra muito restrita do que se passa com o orçamento familiar.
Desde maio de 94 o IPC da Fipe, por exemplo, acumula alta de 35,07%, considerando, para junho de 94, o cálculo em URV.
É que num índice desses entram cerca de 400 produtos e serviços, enquanto a cesta básica se resume a 31, quase todos de alimentação.
Qualquer alta no preço da carne, por exemplo, que pesa muito na cesta, mexe demais com o custo total. No IPC da Fipe isso também ocorre, mas o efeito é diluído.
Outra diferença é que a variação de 4,84% na cesta em 12 meses resulta da comparação de seu custo em duas datas fixas. É como um índice ponta a ponta.
No caso do IPC da Fipe, como em outras pesquisas de inflação, comparam-se preços médios em 30 dias com os dos 30 dias anteriores. Daí surge a taxa mensal.
Mas a grande disparidade é que, no IPC da Fipe, entram itens como habitação, saúde (ver texto abaixo) e educação, além de transportes, vestuário e um número bem mais amplo de produtos de uso pessoal.
Os produtos e serviços que mais subiram após o Real são aqueles sem possibilidade de enfrentar a concorrência de importados e que também foram afetados pelo crescimento do consumo, explica o coordenador do IPC da Fipe, economista Heron do Carmo.

Aluguel
O grande vilão da inflação após o Real foi o aluguel. Enquanto o IPC da Fipe ficou em 28,99% até a terceira quadrissemana de maio, o item habitação subiu 51,10% e, dentro dele, o aluguel aparece com nada menos que 179,38%.
Para Heron do Carmo, a culpa da forte pressão do aluguel residencial sobre as taxas de inflação é do próprio governo, que reprimiu os preços deste setor quando a inflação era muito alta.
A conversão dos aluguéis pela média em julho de 94 não foi respeitada e depois, com a renegociação dos contratos, o impacto sobre as taxas de inflação foi enorme.
Mas ele prevê que, superada a fase de reacomodação, os aluguéis deverão subir em ritmo próximo ao da média dos demais preços.

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