São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Militantes gays comentam a novela

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A seguir, militantes homossexuais opinam sobre a trama gay da novela ``A Próxima Vítima":

Raimundo Pereira da Silva, 34, secretário internacional do Grupo Atobá (RJ) - ``Espero que Sandro e Jefferson marquem o início de um novo tempo na televisão. Cansei de ver novelas e minisséries retratando homossexuais como bandidos, pervertidos ou palhaços. É ótimo que, agora, a Globo se preocupe em mostrá-los de maneira mais realista, sem preconceito."
``Lamento apenas a pouca proximidade física entre os dois personagens. Claro que não precisam trocar beijos nem transar em cena. Mas poderiam, pelo menos, se abraçar."
``É hipocrisia da Globo não admitir a homossexualidade de Sandro e Jefferson para a imprensa. A emissora deveria assumir a polêmica de uma vez e enfrentar as forças contrárias."

Luiz Mott, 49, presidente do Grupo Gay da Bahia e autor do livro ``O Lesbianismo no Brasil" - ``Sandro e Jefferson são muito tímidos, muito pudibundos. Trocam olhares lânguidos, tocam-se pouco, insinuam um afeto que não faz jus à Paulicéia Desvairada, à cidade maluca em que vivem. Parecem morar na Inglaterra vitoriana."
``Não me surpreende que a Globo tente esconder da imprensa a relação homossexual entre os personagens. É mais uma prova de que também o meio artístico alimenta preconceitos contra os gays."

Luiza Granado, 35, coordenadora da Rede de Informação Um Outro Olhar (SP) - ``Quando a televisão resolve discutir o homossexualismo com sobriedade, sem apelar para o escândalo, acaba ajudando no combate às injustiças de que gays e lésbicas são vítimas."
``Espero que Sandro e Jefferson tenham um final feliz. Tomara que não morram antes de a novela terminar."

Toni Reis, 30, secretário-geral da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT), com sede em Curitiba - ``Sinto-me dignamente representado por Sandro e Jefferson. A novela os apresenta como cidadãos."
``Os dois estudam, têm família e amigos. Não são irresponsáveis nem folclóricos como os personagens de programas humorísticos. Não saem rebolando pelas ruas à caça de parceiros."
``Também não se comportam como os tipos exóticos que o dramaturgo Nelson Rodrigues criou. Não são suicidas nem assassinos em potencial."
``Tratar os homossexuais na televisão com delicadeza, sem exageros, eleva a auto-estima da comunidade gay."
``Compreendo que a Globo não queira fazer alarde do assunto para a imprensa. O tema é mesmo explosivo. Convém tratá-lo com prudência." (AA)

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