São Paulo, segunda-feira, 5 de junho de 1995
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Despesas de Fleury superam rendimentos

XICO SÁ; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Despesas de Fleury superam rendimentos
O ex-governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB) mantém um padrão de vida e gastos com o seu esquema político incompatíveis com os seus rendimentos.
Fleury, 46, aposentado como procurador de Justiça, recebe R$ 12 mil por mês. Ganha ainda, segundo a sua assessoria, R$ 1,5 mil de aluguel de um apartamento de sua propriedade.
Para manter a casa e o escritório político, o ex-governador gastaria, de acordo com valores de mercado, cerca de R$ 36,5 mil, sem incluir nessa soma uma série de despesas como contas de três telefones e vestuário da família.
Funcionários
Somente com a folha de pagamento dos funcionários do escritório, o ex-governador já desembolsaria quase todo o seu rendimento: as 11 pessoas custam R$ 13 mil por mês. O programa de rádio que leva ao ar em 15 emissoras do interior vale mais R$ 4,5 mil.
Fleury diz que criou uma ONG (Organização Não-Governamental) para bancar esse tipo de despesa (leia box abaixo).
Cliente cativo do Massimo, um dos restaurantes mais caros de São Paulo, Fleury tem ainda despesas com almoços e jantares fora de casa, que também não foram contabilizados nos seus gastos.
A vida que o ex-governador leva e a sua estrutura política têm sido alvo frequente das reuniões do Conselho Superior do Ministério Público Estadual, que estuda a abertura de um inquérito para investigar o assunto.
O conselho reúne promotores responsáveis por pedidos de investigações. Os requerimentos desse grupo dependem de uma decisão final do procurador-geral de Justiça, Emmanuel Burle Filho.
Segundo os promotores, a lei federal 8.429 (de junho de 1992), que trata de questões de enriquecimento ilícito, permite a abertura do inquérito contra o ex-governador paulista.
Essa lei autoriza investigações sobre funcionários e ex-funcionários públicos que apresentam sinais de um padrão de vida superior aos seus rendimentos.
Caberá ao acusado, de acordo com os promotores do Conselho Superior do Ministério Público, provar que os seus gastos são compatíveis com a sua renda.
Mudança
O padrão de vida de Fleury mudou muito. Antes de tomar posse como governador, no início de 1991, o então promotor público e ex-secretário de Segurança morava em um apartamento simples, típico de classe média.
Localizado no bairro de Cerqueira César (região central de São Paulo), o imóvel, de propriedade do peemedebista, tem três quartos e está alugado por R$ 1,5 mil, segundo Fleury.
Desde o final do ano passado, o ex-governador, a mulher, Ika, e os três filhos trocaram a residência oficial do Palácio dos Bandeirantes por uma casa no bairro do Pacaembu (zona oeste paulistana).
Fleury paga R$ 4 mil de aluguel, segundo o proprietário da casa, o empresário José Mansur Farhat, que é dono de uma firma chamada Fábrica Nacional de Vidros de Segurança, de São Paulo.
Com piscina, sauna, salão de festas e quatro suítes, a casa está avaliada pelo mercado imobiliário em R$ 900 mil.
Para manter a casa, com alimentação, dois empregados, motorista e os serviços de jardinagem, limpeza da piscina e pagamento de contas de água e luz, a família gasta pelo menos R$ 3 mil.
Com a escola dos filhos, o ex-governador desembolsa mais R$ 805,88. A mensalidade escolar do mais velho, Luiz Antonio, 18, é de R$ 225,64 na Escola de Propaganda e Marketing; a de Luiz Felipe, 16, fica por R$ 332,32 e a da caçula Maria Cristina, a Kika, 13, custa R$ 242,92. Os dois estudam no Colégio Dante Alighieri.
(Xico Sá e Emanuel Neri)

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