São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 1995
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Para o BC, privatização é 'inegociável'

GUSTAVO PATÚ; DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA<UN>

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Alkimar Moura, disse ontem à Folha que "a privatização do Banespa é inegociável".
A posição do diretor, responsável pela gestão dos bancos estaduais sob intervenção do BC, contraria as expectativas do governador paulista Mário Covas (PSDB).
Desde a queda do presidente do BC, Pérsio Arida, na semana passada, lideranças do PSDB paulista, contrárias à privatização do Banespa, vêm dizendo que o Estado manterá o controle acionário do banco.
Segundo Moura, a proposta de Covas de manter o controle acionário do Banespa pelo governo paulista pode ser aceita pelo Banco Central -mas só como uma primeira etapa.
Por esta proposta, o governo paulista teria 50% das ações do Banespa mais uma ação (permanecendo como acionista majoritário). O setor privado teria 30% das ações e o fundo de pensão dos funcionários do banco ampliaria sua participação acionária de 16% para 20%.
Com este modelo de administração, o Banespa, que está sob intervenção do BC desde dezembro último, voltaria ao controle do Estado de São Paulo este mês.
Mas, ao contrário do que têm dito lideranças covistas, esta solução está longe de ser consensual. "Não abriremos mão de privatizar o Banespa. Uma proposta intermediária só vale como primeiro passo", afirma Alkimar Moura.
Dívida
Há uma divergência clara de pontos de vista entre o BC e Covas: o governador quer primeiro uma solução para a dívida do Estado junto ao Banespa, para depois discutir a privatização do banco. Para o BC, a ordem é inversa.
"A solução para a dívida de São Paulo só será definida quanto estiver acertada a privatização do Banespa", diz Moura.
As divergências entre Covas e Arida na condução do problema do Banespa também contribuíram para a queda do presidente do Banco Central.
O governo paulista deve cerca de R$ 12 bilhões ao Banespa e não tem dinheiro em caixa para pagar as prestações mensais. Sem receber o dinheiro, o banco está tecnicamente quebrado.
O BC e o governo paulista têm estudos quase concluídos para viabilizar o pagamento da dívida do Estado junto ao Banespa: parcelas mensais entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões, acessíveis ao caixa do Estado.
Segundo lideranças covistas, metade da dívida poderá ser paga com uma operação -chamada de "engenharia financeira"- envolvendo US$ 6 bilhões em títulos da dívida externa brasileira em poder do Banco do Brasil.
Estes títulos representam uma dívida do Tesouro Nacional junto ao BB, mas com prazos de até 30 anos e juros baixos. O governo paulista quer as mesmas condições para pagar o Banespa.
Uma das possibilidades é o governo paulista comprar estes títulos, pagando ao BB nas mesmas condições de prazo e juros estabelecidas nos títulos.

Colaborou Daniel Bramatti, da Sucursal de Brasília

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