São Paulo, segunda-feira, 5 de junho de 1995
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História sem fim

O governador de São Paulo, Mário Covas, afirmou na última semana que o Estado e o Banco Central estavam próximos a uma definição sobre o Banespa, sugerindo que a intervenção federal no banco viria a terminar em breve. Seria, para dizer o menos, uma decepção.
A rigor, não há nenhuma mudança de fundo na situação do Banespa desde que o BC assumiu a sua gestão. Se a instituição saiu da crise de solvência aguda em que mergulhara no fim de 1994 -o que é incerto-, ela continua cronicamente doente. Nada garante que não voltará à UTI dentro em pouco.
A intervenção do BC funcionou como um analgésico temporário. Pode resultar inútil, se for simplesmente suspenso permitindo que os sintomas voltem a se manifestar. Ou então pode redundar em avanços duradouros, se servir para preparar uma cirurgia profunda, que ataque as origens da moléstia que consome o Banespa e que atinge diretamente o Estado.
A situação do banco pode decerto ter sido agravada -e muito- pela irresponsabilidade financeira dos últimos governos de São Paulo. Mas a causa real da crise do Banespa -e dos bancos estatais em geral- é o vínculo incestuoso entre o banco e a política.
É porque o ocupante de turno do Palácio dos Bandeirantes pode usar e abusar do Banespa que a dívida do Estado junto ao banco supera a marca dos R$ 10 bilhões. Esse valor estratosférico paira muito acima da atual capacidade financeira do Estado. Qualquer solução para o caso vai exigir grandes doses de coragem e muita imaginação.
Mas se se pretende evitar de vez que descontroles se repitam, aqui como noutros Estados, é imperativo cortar o liame atual entre governos e bancos estaduais. E o meio mais eficiente -se não o único- para fazer isso é a privatização.
Pensar em encerrar a intervenção do BC no Banespa agora seria deixar sem resposta tanto a causa quanto a consequência da crise. Seria deixar mais uma vez sem fim a longa e custosa história dos bancos estaduais no país.

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