São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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"Não sou neoliberal", diz FHC a emissora argentina

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso rejeitou ontem o rótulo de ``neoliberal" atribuído a ele pelos críticos da reforma constitucional. ``Continuo sendo um social-democrata", disse em entrevista à Telefe, emissora de TV argentina.
Neoliberalismo é uma corrente do pensamento econômico e político que acredita que o mercado, e não o Estado, é o principal promotor do desenvolvimento. Os neoliberais têm marcado sua atuação pela privatização de empresas públicas.
Os social-democratas defendem um Estado regulador da atividade econômica.
A reação de FHC ocorre num momento em que o Congresso vota as emendas que quebram os monopólios do petróleo e das telecomunicações.
FHC também defendeu a mudança do papel do sindicalismo, numa crítica à atuação da CUT (Central Única dos Trabalhadores). ``Este sim é um trabalho importante para os sindicatos: abrir caminho para que haja trabalhadores participando do controle das decisões, participando dos investimentos, mas também da gestão da empresa."
Segundo FHC, essa iniciativa tornaria ``mais barato o custo do telefone, da gasolina, da eletricidade e dos portos". Todos os exemplos se referem a setores em que o governo propõe a abertura ao capital privado.
Sobre o neoliberalismo, o presidente disse: ``Creio que o que aqui se usa na luta política de chamar de neoliberal esse ou aquele não corresponde à realidade."
O neoliberalismo representa a corrente de pensamento que defende o fim da interferência do Estado sobre todos os setores da economia. Os social-democratas concordam com a mínima participação do Estado na atividade econômica, mas pregam a atuação na área social.
FHC foi entrevistado ontem de manhã pelo jornalista Bernardo Neustadt para o programa Tiempo Nuevo, da Telefe.
Em 25 de agosto de 1992, essa mesma emissora fez a primeira entrevista com o ex-presidente Fernando Collor após a abertura do processo de impeachment.
FHC falou sobre a expectativa de aprovação das reformas, o programa de privatização, o reforço de sua segurança pessoal e o compromisso de não adotar uma política cambial que surpreenda os argentinos. A seguir, os principais tópicos da entrevista:
Segurança
A segurança do presidente está sempre a cargo do Exército e das Forças Armadas. É uma coisa normal. Sempre foi assim. Não tenho nenhuma preocupação quanto a minha vida. Como ocorreram algumas manifestações de grupos políticos organizados, que atiraram pedras (não sei quantas) nos ônibus onde estava com os ministros, eles (os seguranças) estão naturalmente preocupados com isso."
Monopólios
``É errado pensar que ainda tem que se manter uma economia autárquica com rígido controle do Estado em todos os investidores e que só o investimento estatal produz bem-estar. Já adotamos esse modelo que foi útil em seu tempo, mas agora há que se fazer investimentos de todo tipo, inclusive privados, nacionais e estrangeiros."
Lula e Brizola
``O Congresso está apoiando (as reformas), salvo dois ou três partidos, notadamente o partido que perdeu as eleições, o de Lula, Partido dos Trabalhadores, e pequenos partidos, como o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e o partido de Leonel Brizola (PDT). O grupo de Brizola se opõe fortemente, mas são pessoas que estão voltadas para o passado."
Solidão
``Há sempre dificuldades. No começo, me senti muito só, principalmente quando fui ministro da Fazenda (durante o governo Itamar Franco) e tive de me confrontar com forças políticas que não queriam saber de privatização, disciplina monetária e fiscal necessárias para recuperar o ímpeto do desenvolvimento econômico..."
Presidente da Argentina
``É preciso ter duas virtudes para se manter na posição de liderança (no continente). Uma é a coragem. Sem coragem não se faz nada. A outra é a convicção. Essas características Carlos Menem as tem."
Surpresas aos argentinos
``De nenhuma maneira há que se temer surpresas e medo de que o Brasil vá utilizar o câmbio (mudança na relação entre o real e o dólar) como instrumento para aumentar suas exportações e dificultar importações.
Ao contrário, tanto nosso chanceler quanto o ministro da Fazenda estão em contato permanente com os os argentinos. Nada se faz sem informá-los."

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