São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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Celly foi mãe e pai do rock

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Era um fardo pesado demais. Em 1958, com apenas 17 anos, Celly Campello tornou-se estrela nacional, equivalente brasileira dos astros rebeldes que surgiam inventando o rock'n'roll.
Com ``Estúpido Cupido" e ``Banho de Lua" estourando nas rádios, natural que ela se tornasse nosso Elvis Presley, a um tempo mãe e pai do rock brasileiro.
O lançamento ``Celly Campello - Grandes Sucessos" faz em CD a arqueologia dessa época.
Os nomes das canções (lamentavelmente sem os créditos de autoria no CD da EMI) definem-se por si: ``Broto Legal", ``Presidente dos Brotos", ``Broto Certinho".
Assim caminhou, entre exceções (como os Mutantes), o rock brasileiro, sempre ingênuo, tímido, imitativo dos padrões de fora.
Pouco ousados, nossos roqueiros deixaram a outro artista a missão de renovar a música local. João Gilberto era, na verdade, o Elvis Presley brasileiro.
Nem por isso os méritos de Celly são menores. Gritando e transbordando fofura, a ``bonequinha que cantava" influenciou um espectro heterogêneo de artistas.
Impossível não reconhecê-la em Rita Lee, Wanderléa, Gal Costa e demais tropicalistas, Blitz, Kid Abelha, Pato Fu, Elis Regina (que estreou em vinil com ``Viva a Brotolândia", em 1961).
O CD, além de arqueologia, é também diversão garantida, com todos os hits e mais surpresas.
``Índio Sabido", por exemplo, inaugura o indianismo na MPB, com ecos posteriores em Caetano, Rita Lee, Jorge Ben e Xuxa.
Mas nada como ``A Lenda da Conchinha". Vale sozinha o preço do CD, com seus vocais delicados e a letra que diz: ``Nas dobrinhas de uma concha/ Nosso amor eu escondia/ A conchinha cor-de-rosa/ Meus segredinhos sabia".

Disco: Grandes Sucessos
Artista: Celly Campello
Quanto: R$ 18, em média

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