São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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Computador terá imagens tridimensionais

BILL GATES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vivemos em um mundo dinâmico, em três dimensões, mas as imagens que vemos no papel e nas telas de televisão e cinema são planas.
Frequentemente essas imagens têm uma aparência um pouco tridimensional, especialmente em se tratando de fotos, mas é um efeito ilusório, fruto da perspectiva e do sombreamento.
As telas dos computadores também são planas. Diferentemente das telas de TV e cinema, elas geralmente têm aparência bastante plana.
As exceções a essa regra incluem os botões da barra de ferramentas e outros controles presentes na tela, que dão a impressão de se elevarem ligeiramente da superfície da tela, graças ao sombreamento.
Mas o sombreamento dos botões da barra de ferramentas é apenas um leve indício do que temos pela frente.
Durante os próximos anos, as imagens tridimensionais vão transformar a aparência da computação popular.
Entre outras coisas, a atual metáfora desktop bidimensional, na qual um usuário de PC olha para baixo para uma superfície de mesa contendo documentos e ferramentas, deverá dar lugar a uma metáfora tridimensional.
É bem possível que possamos nos locomover para todos os lados de uma mesa ou abrir uma gaveta para procurar alguma coisa.
As imagens tridimensionais vão tornar os computadores mais úteis, divertidos e naturais, porque as imagens que eles irão transmitir serão mais semelhantes às da vida real.
Para dotar a tela desse tipo de realismo é preciso muita potência de computador -que as empresas fabricantes de equipamentos estão fazendo o máximo para conseguir fornecer. Uma série de diferentes cartões adicionais de PC, que aceleram os gráficos tridimensionais, estão prestes a chegar ao mercado.
Daqui a dois ou três anos, o computador pessoal comum terá possibilidades gráficas tridimensionais aproximadamente equivalentes àquelas das estações de trabalho de computadores mais sofisticados, que hoje custam dez vezes mais do que um PC.
Os gráficos tridimensionais provavelmente não vão modificar muito os documentos que só contenham texto, mas mudarão muito as tabelas e animações. Os programas usados por arquitetos e engenheiros para desenhar objetos tridimensionais vão melhorar enormemente.
Os usuários de PC doméstico poderão usá-los para projetar seus jardins ou mesmo para imaginar diferentes maneiras de dispor a mobília de suas salas.
No decorrer dos séculos, as pessoas têm encontrado diferentes e engenhosas maneiras de transmitir a impressão de três dimensões no papel.
Desde o Renascimento, as pinturas geralmente incluem a perspectiva. Os artistas sombreiam os objetos para simular seus contornos. Os desenhistas de mapas às vezes desenham montanhas e vales para retratar o relevo do terreno ou incluem as formas e alturas de edifícios para dotar o mapa das qualidades de uma foto aérea.
Graças a recentes e espantosos aumentos na potência dos computadores, as telas de TV e cinema hoje estão repletas de imagens tridimensionais criadas por artistas. Cenários tridimensionais sintéticos, criados eletronicamente com a ajuda de software, hoje nos bombardeiam em comerciais, filmes e programas de televisão.
Palavras que parecem ter sido esculpidas em metal brilhante atravessam nossas telas de TV. Carros são metamorfoseados em caminhões. Programas esportivos abrem com efeitos gráficos sofisticados que quase parecem sair da tela e nos envolver.
Em relação a nós, espectadores, o ponto para o qual estamos olhando frequentemente flutua no espaço tridimensional, de modo que parecemos estar viajando através e em volta de objetos como logotipos de empresas, motores de carros e vinhetas de emissoras.
Filmes como ``Parque dos Dinossauros" apresentam produtos espantosos de arte tridimensional, oferecendo imagens que parecem ser captadas da vida real, não da imaginação de artistas. Embora eu saiba que os dinossauros no filme foram criados em computador, acabo acreditando em sua existência.
Essas imagens modeladas em três dimensões permitem a produção de simulações convincentes da vida real porque o artista controla a forma, a textura, a luz, a sombra, a perspectiva e o movimento em uma cena. Primeiro, o artista cria um modelo tridimensional de um objeto, que só existe matematicamente; depois, pede ao computador que produza um modelo com a aparência que ele teria quando visto desde determinado ponto, assim criando uma imagem bidimensional.
Para modelar um tijolo, o artista poderia desenhar na tela do computador um corte retangular definindo a largura e a altura do tijolo, e depois indicar (por exemplo, projetando para fora o corte retangular) que comprimento ele quer que o tijolo tenha. O resultado é uma caixa tridimensional, perfeitamente lisa de todos os lados.
Como as laterais dos tijolos não são lisas, o artista poderia introduzir imperfeições e aplicar uma cor alaranjada. O mais provável é que ele simplesmente embrulharia os seis lados do modelo em uma foto do lado externo de um tijolo de verdade. Essa técnica se chama mapeamento de textura.
O computador pode então ``ver" o tijolo de qualquer posição e tirar uma foto. Isso cria uma imagem bidimensional -uma foto- que pode ser exibida na tela. Para simular movimento, o artista define uma trajetória e manda a câmera tirar fotos repetidas, enquanto acompanha a trajetória.
É claro que poucas pessoas fazem tudo isso com simples tijolos. Os modelos da vida real às vezes são extremamente complexos. Estão surgindo empresas para satisfazer a crescente demanda de efeitos tridimensionais sofisticados para filmes, televisão e multimídia.
Essas empresas vão desde as grandes, como a Industrial Light & Magic e a Digital Domain, até as de fundo de quintal, como a Cyan e a Raster Ranch.
Essas companhias utilizam estações de trabalho caras que às vezes levam várias horas (ou mesmo dias) para produzir sequências que são exibidas em alguns segundos. Mas na próxima década, computadores pessoais baratos já terão condições de criar sequências animadas em tempo real.
Quando isso acontecer, o mundo do lazer será profundamente afetado. Os jogos interativos terão que possuir um realismo comparável a ``Parque dos Dinossauros". Se você quiser lutar contra dinossauros assustadoramente realísticos na tela do seu próprio computador, terá condições para isso.
Na realidade, você mesmo terá condições de desenhar os dinossauros e lutar com eles em sua própria sala.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. A correspondência também pode ser enviada diretamente a Bill Gates no endereço eletrônico askbill microsoft.com.

Tradução de Clara Allain

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