São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
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Relator reconhece doação de empresa

Recursos foram da Petróleo Ipiranga

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relator da emenda do petróleo, deputado Lima Netto (PFL-RJ), recebeu R$ 40 mil em doações para sua campanha eleitoral em 94 da Petróleo Ipiranga, uma das empresas beneficiadas com a eventual quebra do monopólio estatal. A denúncia foi feita ontem, da tribuna, pelo deputado Marcelo Deda (PT-SE) e admitida pelo pefelista.
``Os privatistas costumam dizer que a economia deve ser regulada pela mão invisível do mercado, mas essa mão invisível às vezes deixa impressões digitais", discursou Deda, enquanto mostrava uma cópia da prestação de contas de Lima Netto à Justiça Eleitoral do Rio.
O relator admitiu que recebeu as doações. ``Foi tudo legal, trocado por bônus eleitorais. O PT não tem moral para me atacar, pois recebeu doações de uma empreiteira que trabalha para a Petrobrás, e que portanto não quer a quebra do monopólio", afirmou Lima Netto, referindo-se à construtora Odebrecht.
A empreiteira fez uma doação de R$ 400 mil para a campanha do petista Cristóvam Buarque ao governo do Distrito Federal.
Alegando que a denúncia comprometia a isenção do relator da emenda, o deputado Milton Temer (PT-RJ) pediu que o relatório fosse anulado e Lima Netto impedido de votar.
O pedido foi rejeitado pelo presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), e Temer prometeu recorrer à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
Marcelo Deda disse à Folha que sabia das doações desde a véspera, mas não tinha documentos para comprová-las. ``Recebi as provas de um assessor quando estava com o pé na escada da tribuna, para fazer outro discurso. Quase sofri um enfarte", afirmou o petista.
Após o discurso, deputados de oposição passaram a gritar ``Ipiranga, Ipiranga", enquanto os governistas respondiam com ``Odebrecht, Odebrecht".
O deputado Lima Netto foi presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) entre 1990 e 1992 e entre 1993 e 1994, quando a então empresa estatal foi privatizada. A CSN, como a Petrobrás, era um símbolo dos setores nacionalistas da política brasileira. Também foi criada por Getúlio Vargas, em 1941.

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