São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
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Confundindo os cartões

MOACYR SCLIAR

- Muito boa essa idéia do prefeito de Bogotá -disse o homem que, a meu lado, no bar, lia a Folha.
Não pude deixar de concordar: substituir os desaforos dos motoristas por cartões me parecia uma coisa sensata. Própria de quem, como o prefeito colombiano, tem formação filosófica -e conhece, portanto, o mal que se esconde nos corações humanos.
O homem suspirou:
- Pena que algumas pessoas não poderiam usá-lo.
- Que pessoas?
- Eu, por exemplo.
- Por quê? Você não tem carro?
- Tenho. O problema não é esse. O problema é a minha profissão.
- E qual é a sua profissão?
- Eu sou juiz de futebol.
Eu não estava entendendo:
- Mas por que não poderia um juiz de futebol usar esses cartões?
- Por causa da confusão.
E diante de minha surpresa, explicou:
- Lá pelas tantas, eu estaria trocando as bolas. Imaginou a situação? Eu dou cartão amarelo para um jogador. Ele pergunta por quê. ``Porque você ultrapassou o seu companheiro na curva". Ou: ``Porque você estava mal-estacionado ali na lateral". Eu sou uma pessoa simples, entendeu? Eu me confundo por nada. Cartão, para mim, tem de ser só no futebol ou só no trânsito. Os dois juntos não dá.
Sorriu, triste:
- E, como quero continuar juiz, não vou usar cartão nenhum no trânsito. Continuarei com os palavrões de sempre. Podem não ser educados, mas pelo menos não causam confusão.

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