São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
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Treinador inglês vê Brasil como exemplo

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

O técnico da seleção da Inglaterra, Terry Venables, 52, acredita que seu time precisa adotar a disciplina tática que o Brasil demonstrou ao vencer a Copa do Mundo dos EUA.
Em entrevista à Folha, em Londres, ele disse que o futebol ofensivo dos ingleses precisa adquirir algumas características mostradas pelos brasileiros -donos, na sua opinião, do melhor futebol do mundo.
Para Venables, o torneio que está sendo disputado na Inglaterra é um verdadeiro teste para seu time pela qualidade dos adversários (Brasil, Suécia e Japão).
Depois de ficar fora da Copa dos EUA, a Inglaterra se prepara para atuar como anfitriã do Campeonato Europeu de seleções, que acontece no próximo ano.
Desde que assumiu o comando do time, Venables continua invicto.
Sofreu apenas uma derrota parcial, 1 a 0 contra a Irlanda, num jogo interrompido ainda no primeiro tempo por violência entre torcedores.
Mas as atuações do time não têm agradado à torcida ou à imprensa inglesa, que criticaram a equipe, principalmente depois do empate em 0 a 0 contra o Uruguai, em Londres, em março, e da vitória de 2 a 1 sobre o Japão, na estréia do Torneio da Inglaterra.

Folha - O senhor tem muita informação sobre o atual time brasileiro?
Terry Venables - Eu vi alguns jogos, mas tenho a opinião de que temos que trabalhar por nós mesmos, tentar organizar nosso próprio time.
Quero ter uma equipe que não mude muito de acordo com o adversário. Mas, infelizmente, não tenho muito tempo para prepará-la.
Eu conheço o futebol brasileiro, tenho um grande respeito pela forma como eles jogam.
Agora eles atacam com mais disciplina, o que os torna mais difíceis de serem derrotados.
Eles não têm apenas a postura que sempre tiveram, por serem melhores do que todos os outros, o que entusiasmava sua torcida e o mundo todo. Mas acabavam perdendo, como para a Argentina, por 1 a 0, na Copa de 90.
Hoje os brasileiros são muito mais disciplinados e ainda mantêm as habilidades individuais que tinham antes.
Folha - O senhor acredita que o futebol brasileiro é o melhor do mundo hoje?
Venables - Sim. A Argentina também é um time bom, mas eu acho que o Brasil é o melhor.
Folha - O senhor acha que deveria implantar algumas das estratégias do futebol brasileiro, ou espanhol, para tornar-se mais competitivo?
Venables - Acho que sim. Nós temos que tentar melhorar observando outros times que são mais bem-sucedidos que nós.
Folha - A final do Mundial de juniores foi entre Brasil e Argentina. O senhor acredita que o futebol sul-americano pode estar se tornando mais forte que o europeu?
Venables - Os fatos não confirmam isso totalmente, porque, dos oito times que chegaram às quartas-de-final na Copa do Mundo, sete eram europeus.
Mas foi o Brasil que venceu, então nós temos que aceitar o fato de que o Brasil é o melhor.
Eu esperava que a Argentina fosse até o final, mas acho que eles fizeram o que o Brasil fazia no passado: contar apenas com o futebol ofensivo.
Eles fizeram bons jogos, mas não tinham a mesma disciplina que o Brasil.
Normalmente, a Argentina era quem tinha a disciplina e o Brasil, não. Desta vez, aconteceu o contrário.
Folha - Qual a importância deste torneio para a seleção inglesa?
Venables - Com nossos três jogos neste torneio, eu terei completado dez partidas como técnico da Inglaterra.
Espero ter mais sete ou oito durante a próxima temporada, antes do Campeonato Europeu.
Depois do torneio, teremos meio caminho andado. Espero que eu saiba muito mais sobre os nossos jogadores, sobre qual é a sua força.
Além disso, os nossos adversários neste torneio são equipes fortes. E, quando um jogador atua pelo seu país, está sempre lutando para manter o seu lugar na equipe. Quando você quer manter o seu lugar, sempre faz o melhor possível.
Folha - É muito importante para a Inglaterra vencer este torneio?
Venables - Não acho que seja muito importante. É claro que nós sempre queremos vencer um torneio, mas o mais importante é o que eu puder descobrir sobre alguns jogadores.
Tenho que me certificar não apenas sobre o time, mas também sobre os que estão em torno da equipe.
Como resultado, se eu tiver problemas de contusão, terei confiança em escalá-los.
Isso foi o que aconteceu este ano. O elenco cresceu porque alguns jogadores tiveram problemas de contusão.
Eu também tive problemas de cinco jogadores machucados para este torneio.
Folha - O fato de o elenco ter crescido não o atrapalha para decidir pela sua equipe ideal para o Campeonato Europeu?
Venables - Não. Eu prefiro ter este problema a não ter um número suficiente de jogadores.
Eu quero competição, os jogadores trabalhando duro para conseguir uma posição na equipe.
Folha - A última temporada do futebol inglês foi marcada por indisciplina e escândalos, com a suspensão de vários jogadores.
Que tipo de danos esses problemas causaram ao seu trabalho de compor um time para a Inglaterra?
Venables - Nós preferíamos trabalhar sem eles, mas o futebol é maior do que os problemas individuais.
O que temos que fazer é solucionar esses problemas do lado de fora do campo e tratá-los separadamente.
Eles aparecem e isso tem acontecido por cem anos. Não é nada novo, vai acontecer de novo, temos apenas que lidar com eles de uma forma mais eficiente do que temos feito.
Folha - Qual a sua opinião sobre a qualidade do futebol apresentado pelos times ingleses na temporada 94-95, que acaba de se encerrar?
Venables - É um jogo bastante aberto. Os ingleses gostam de ver gols, emoção, erros, porque algumas vezes esses gols são causados por erros.
Eu acho que, na Itália, na Espanha e na América do Sul, os times estão muito mais cuidadosos, mais fechados, não dando espaço e jogando no contra-ataque.
Nós jogamos mais da seguinte forma: atacamos o seu gol e vocês atacam o nosso e esperamos fazer mais gols que o outro time.
É um jogo muito rápido, é emocionante quando jogamos entre nós, mas, às vezes, não é muito bem-sucedido quando enfrentamos adversários do exterior.

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