São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
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E o velho Lobo Zagallo ataca com cinco!

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, sabem com quantos atacantes o velho Lobo do futebol Zagallo disse ontem que está jogando lá nas terras de Sua Majestade?
Com C-I-N-C-O, repito para quem duvidar, C-I-N-C-O atacantes. Um, dois, três, quatro e... ciiinco.
Um ano depois a luz, a iluminação, a clarividência, o apocalipse (que no início também era revelação) chegam ao comando da seleção brasileira de futebol.
Um ano depois de esta coluna ter sido criticada, ironizada, zombada, soam as trombetas da verdade cinco vezes verdadeira; o império da razão chega, não sem tempo, ao timoneiro da seleção.
Para a história, fica o registro daquilo que todos diziam ser impossível, ultrapassado, fora de época, fósforo queimado, folha morta, amores do passado...
Os idiotas da objetividade dirão, com a lei da gravidade superficial de sempre, que o que o velho Lobo do futebol Zagallo disse ontem é diferente.
Ele disse, por exemplo, que o Roberto Carlos e o Jorginho, quando o Brasil vai para o ataque, metamorfoseiam-se, transmutam-se, aculturam-se na função político-social de vanguardeiros típicos.
E o que esta coluna propunha era o inverso complementar, o espelho invertido, o yn e o yang, a corda e a caçamba, o direito e o avesso desta mesma propositura funcional dentro da cancha.
Ou seja, fazer dos atacantes, quando a iniciativa, o empreendimento, a aventura, o risco estão com o adversário, a figura de fiscal, de protetor, de supervisor, de guarda costeiro das fileiras da retaguarda.
Literalmente, eles seriam a vanguarda do atraso (e não o atraso da vanguarda, como se tentou insinuar por aí).
O diferencial, a vantagem competitiva, o ganho de produtividade se dariam no momento fulminante, fulguroso e ``full gás", como diria Antonio Cícero, do ataque ao som de uma marcha triunfal.
Mas, para este locutor, que vos escreve direto ao core e ao escore, o que interessa é que o princípio -mesmo sem os príncipes- foi aceito. A tese é: ao ataque com a quina de metais em brasa, mora.
E, por falar em brasa, o Roberto ``eu sou terrível" Carlos provou, lá na terra do iê-iê-iê, que eu estou com a razão no que digo (não tenha medo do perigo).
(O sinal não está fechado para os jovens, se é que você me entende: para a teenbolada estão caindo as fronteiras, os muros, as barreiras alfandegárias que sobretaxavam o talento nacional).
O fut tanto ocupou os espaços que deixou espaço sobrando. Esta é a razão da simpatia, do poder, do algo mais e da alegria que os europeus estão re-vendo de novo no fut. Nada de novo sob o gol.
Mas, sob o gol, esta é a palavra que vem da nova coleção primavera/verão do futebol europeu para exportação.
Os cinco eram, são e serão. Como serei? Como serás? O manifesto dos cinco já estava lançado. O futebol flerta novamente com a poesia, pisca para a sedução, procura a vida. Que esta vida há.
(E ainda que tudo isto aumente o risco no disco da dor, quem se arrisca a pedir menos? Eu não. Saudações do futuro.)

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