São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
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Lanònima quer integrar som, luz e movimento

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Lanònima Imperial, que divide com a companhia belga Rosas o programa de encerramento do Carlton Dance Festival hoje em São Paulo, é considerado atualmente o melhor grupo de dança moderna da Espanha.
Fundado em 1986, o Lanònima é dirigido por Juan Carlos Garcia, 37, e em seu elenco há dois brasileiros: Bebeto Cidra e Viviane Calvitti.
``Eco de Silenci", a coreografia que o grupo apresenta no Carlton Dance Festival, promove, segundo Garcia, uma profunda interação entre música, luz e movimentos dos bailarinos.

Folha - Como surgiu a coreografia ``Eco de Silenci"?
Juan Carlos Garcia - Esta peça curta, de 16 minutos de duração, se desenvolve sobre a ``Terceira Sinfonia" de Gorécki.
``Eco de Silenci" surgiu a partir de uma experiência que o Lanonima Imperial teve em um teatro da cidade croata de Osijek, Eslovênia Oriental.
Nesta cidade, nós encontramos uma companhia teatral que trabalhava em um teatro que foi bombardeado pelos sérvios. O que vivi ali, junto aos artistas croatas, me levou a realizar a coreografia ``Eco de Silenci".
Não se trata de uma leitura literal do fato que nós presenciamos. Procurei relacionar aquelas emoções com o movimento. O que me interessa não é o movimento pelo movimento, mas o movimento que reflete as emoções geradas pelas relações humanas.
Folha - Você tem propostas específicas como coreógrafo?
Garcia - Tento expressar experiências de vida, as ordens, desordens, caos, amor e violência que existem ao nosso redor. Sobretudo, quero conceder qualidades muito humanas à dança.
Não me interessa contar histórias no sentido literal. Para mim, a dança expressa um drama cósmico, que transcende a literalidade. A dança em si é quase mais importante que o sentido.
Folha - Você acredita em dança pura?
Garcia - É difícil afirmar porque minha dança tem elementos abstratos, mas, ao mesmo tempo, também contém elementos expressionistas.
Folha - Isto é reflexo de sua formação?
Garcia - Talvez, porque tenho diversas influências como coreógrafo. Nos anos 70, em Barcelona, estudei tudo o que havia de dança contemporânea.
Depois, em Nova York, estudei com o coreógrafo Merce Cunningham e me impressionei muito com a escola americana, daí o fato de minhas coreografias serem muito físicas.
Mas também gosto muito de Pina Bausch, desses criadores para quem a experiência humana é o mais importante. Acho que estou na metade do caminho entre várias coisas.
Folha - O espírito da dança espanhola está presente em seu trabalho?
Garcia - Sem dúvida. Embora eu tenha muitas influências estrangeiras, meu temperamento é espanhol. Também fui influenciado pelo barroco espanhol e certo surrealismo natural que existe em meu país.

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