São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
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Cinemateca traz dinamarqueses inéditos

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Evento: Mostra do Cinema Dinamarquês
Quando: de hoje a 15 de junho
Onde: sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, Pinheiros, tel. 011/881-6542)
Legendas: em espanhol

A Cinemateca começa a exibir hoje nove filmes dinamarqueses realizados entre 1987 e 94. É uma rara oportunidade de conferir o vigor de uma cinematografia que nos últimos anos revelou nomes como Bille August e Gabriel Axel.
É de Axel o único título famoso da mostra, ``A Festa de Babette" (1987), ganhador do Oscar de filme estrangeiro. ``O Grande Dia na Praia" (de Stellan Olsson) também passou nos cinemas daqui.
Poucos dos filmes programados são ambientados na Dinamarca atual. A grande maioria das histórias se passa no século 19 ou então fora do país (caso de ``A Filha do Puma", sobre a guerra civil na Guatemala).
O programa que abre o ciclo, hoje (veja programação ao lado), é representativo desse aparente ``passadismo" dinamarquês.
``Primavera Roubada" (Peter Schroder, 1993) narra retrospectivamente o passado escolar de um grupo de amigos que se reencontram. As lembranças começam nostálgicas e terminam terríveis, revelando uma situação de violência e abuso autoritário.
``Carl, Sinfonia de Minha Infância" (Erik Clausen, 1993) é a biografia romanceada do grande músico Carl Nielsen, focalizando especialmente sua infância pobre, no início do século.

Aparências enganosas
Mas o grande filme do dia é o inédito ``Colheita Negra", co-produção sueco-dinamarquesa dirigida por Anders Refn em 1994.
Assim como ``Primavera Roubada", ``Colheita Negra" começa sugerindo um idílio e termina entregando uma tragédia.
As bucólicas imagens iniciais -um palácio à margem de um lago plácido, uma menina que escreve um diário à janela-, acompanhadas por uma música delicada, logo vão dar lugar a um drama cruel e sangrento.
Na história de uma rica família dinamarquesa do fim do século passado, dominada por um patriarca autoritário e cafajeste (o excelente Ole Ernst), desencadeia-se uma sequência de desgraças que inclui incesto, assassinato, estupro, suicídio e linchamento.
Amparado numa produção e num elenco impecáveis, o diretor Anders Refn, 50, conduz seu drama com densidade e precisão. Apresentando alternadamente os pontos de vista de diferentes personagens -as quatro filhas, a mulher, os empregados do patriarca-, desnuda, véu por véu, o teatro da família e da vida social.
Numa cena, por exemplo, uma das filhas (Sofie Grabol) escreve em seu diário que o primo (Philip Zanden), a quem ama em segredo, é uma alma bondosa. Mas acabamos de vê-lo sufocar com o travesseiro o filho recém-nascido.
Esse épico às avessas, em que ninguém é santo e todos sofrem, é fotografado de maneira magnífica.
A iluminação, aliás, é um capítulo à parte no que se refere ao cinema nórdico. Talvez por passar metade do ano praticamente no escuro, os escandinavos fizeram da valorização e do controle da luz

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