São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
'Conversibilidad' é o assunto do momento Passados quatro anos, 1 peso continua valendo US$ 1 CLÓVIS ROSSI
Vem a ser, na essência, o mecanismo pelo qual o governo argentino garante a conversão de pesos (qualquer que seja a quantidade) por dólares norte-americanos, sempre à base de ``um peso é igual a um dólar", desde abril de 1991. Foi em grande parte graças a essa paridade fixa que a Argentina derrubou a inflação, que chegou a mais de 4.000%, em 1989, para 3,9% no ano passado. Mas atenção: esse dado se refere a todo o ano passado. O que o turista tem a ver com isso? Quase tudo, para o bem ou para o mal. Para o mal: os preços em pesos são comparativamente altos. Afinal, hoje como há quatro anos, US$ 500 compram apenas 500 pesos, mas 500 pesos compram hoje menos coisas do que há quatro anos. Isso porque a inflação continuou rodando. Claro que, agora, roda a uma velocidade civilizada (0,5% em abril, último mês em que a estatística já foi fechada). Mas, ainda assim, o total acumulado desde a ``conversibilidad" passa dos 50%. Política Os argentinos gostaram da história. Tanto que, no mês passado, deram ao introdutor da ``conversibilidad", o presidente Carlos Saúl Menem, um segundo mandato, este de quatro anos, até 1999. O mandato inicial foi de seis anos. Os turistas também têm motivos para gostar. Primeiro, de ordem prática: não é preciso perder tempo trocando dólares por pesos argentinos. A esmagadora maioria dos táxis, lojas, restaurantes, hotéis, bancas de jornal aceita o dólar americano tranquilamente. Mas dá o troco, em geral, na moeda de seu país. Depois, pode-se economizar um pouquinho. Os bancos cobram a tradicional comissão (spread) para fazer a troca de uma moeda pela outra. Mas algumas casas de câmbio não cobram essa taxa. Além disso, há bancos que compram o dólar a 0,99 pesos (para vendê-lo a um peso). Logo, quem trocar, nesse tipo de banco, US$ 100, recebe apenas 99 pesos. Não é muito o que se perde, mas sempre é algo. Não pense, entretanto, que a ``conversibilidad" é a poção mágica que cura todos os males. O desemprego, por exemplo, duplicou desde que o presidente Menem assumiu, em 1989, e hoje atinge 12,2% da força de trabalho da Argentina. Esses são dados de setembro passado, últimos disponíveis. Mas, para o turista, é um fenômeno quase invisível. Até porque, tradicionalmente, a miséria em Buenos Aires fica escondida nos fundões da cidade, ao contrário do que ocorre no Brasil. O número de pessoas pedindo esmolas nas ruas e cruzamentos é infinitamente menor do que em São Paulo, Rio ou qualquer outra grande cidade brasileira. Crianças ambulantes Na calle (rua) Lavalle, a rua dos cinemas no centro de Buenos Aires, até que se encontram crianças vendendo flores ou balas, à noite, quando terminam as sessões. Mas repare nas roupas: no Brasil, vestiriam a classe média. Também não se impressione com a força da palavra. Os argentinos são, em geral, grandiloquentes nas frases. Ficou com quase 30% dos votos. Somados aos quase 50% de Menem, dá oito de cada dez eleitores argentinos favoráveis a essa palavrinha complicada. Não se intimide, no entanto: se quiser puxar uma discussão sobre o assunto, os argentinos adoram discutir e só ``pulverizam" o interlocutor retoricamente. Mesmo que os seus argumentos sejam mais fortes do que os deles. Texto Anterior: Literatura espera pelo momento do exílio Próximo Texto: Viagem pela Austrália é aventura civilizada Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |