São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Começa distribuição de cargos do governo

LUCIO VAZ; MARTA SALOMON; ABNOR GONDIM; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após a aprovação da emenda que quebra o monopólio do Petróleo, na Câmara dos Deputados, líderes governistas avisaram que o governo vai começar a distribuir cargos para os partidos aliados.
O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), afirmou ontem que a distribuição dos cargos vai começar: "Agora, as coisas estão prontas. Os cargos vão sair. Devem sair as teles", disse Aníbal, numa referência aos cargos que devem ser ocupadas nas empresas de telecomunicações.
O PP, o PTB e o PL ameaçaram esvaziar o plenário na terça-feira, durante a votação da emenda das telecomunicações, se não ficasse acertada a entrega dos cargos de segundo e terceiro escalões.
FHC interferiu pessoalmente para acalmar os parlamentares e prometeu cargos aos três partidos, que têm cerca de 70 deputados.
Aníbal disse que a demora na entrega dos cargos ``foi o tempo necessário para não transformar isso no principal.". Perguntado sobre as rebeliões da semana, disse: ``As rebeliões a gente abafa".
FHC soube que havia problemas na bancada governista logo que chegou no almoço com os líderes dos partidos aliados, no Palácio do Jaburu, na terça.
Foi levado para uma mesa na varanda do Palácio, onde estavam os líderes do PP, Odelmo Leão (MG), e do PTB, Nelson Trad (MS). Recebeu a informação de que havia descontentamento.
Ninguém falou em cargos. O presidente aconselhou que as dúvidas dos parlamentares sobre as emendas fossem esclarecidas pelos ministros de cada área.
FHC soube que havia uma rebelião em gestação enquanto comia a sobremesa. Jackson Pereira (PSDB-CE), vice-líder do governo, avisou FHC que havia um problema. Deputados do PP, PTB e PL tinham ameaçando não votar as emendas do governo.
FHC respondeu que seria "impatriotismo". O líder do PL, Valdemar Costa Neto (SP), rebateu que ninguém pensava em votar contra. Que a idéia era negar quórum.
Na frente de dez outros líderes, Costa Neto não falou em cargos. Disse que as bancadas queriam alterar a emenda de telecomunicações. Puxou do bolso uma cópia da emenda e indicou o conflito.
FHC não entendeu o recado e pediu para o ministro Sérgio Motta (Comunicações) esclarecer as dúvidas.
Mas os demais líderes fizeram chegar ao presidente que o descontentamento era decorrência da não entrega dos cargos federais.
Na saída, FHC falou para Costa Neto passar no Palácio do Planalto à tarde. Determinou ainda que Motta recebesse os líderes do PTB e do PP.
No Palácio do Planalto, Costa Neto deixou claro que o PL queria mais espaço no governo. O presidente respondeu que queria contar com o partido no governo. O deputado então respondeu que não era o que parecia, que o presidente tinha resolvido a situação do PFL, a quem teria dado a Eletrobrás. Insistiu em que o partido não tinha recebido nada.
FHC afirmou então que o governo está analisando os pedidos e que as nomeações vão sair com calma, pedindo que o recado fosse transmitido aos parlamentares do PL.
Costa Neto aproveitou e indicou o que o partido queria: cargos na Caixa Econômica Federal.
No Ministério das Telecomunicações, Motta tratou de acalmar o PP e o PTB. Trad indicou nomes para quatro diretorias na Telems (Companhia de Telecomunicações do Mato Grosso do Sul).
Motta disse que os partidos governistas serão ouvidos, mas fez uma resalva. Pediu para saber quais parlamentares estão dispostos a apoiar o governo.
A rebelião dos governistas começou na manhã de terça-feira. Cerca de 30 deputados se reuniram na liderança do PTB e avisaram que não votariam com o governo se não fossem garantidos cargos.
O líder do PP, Odelmo Leão, fez uma sugestão. Os três partidos abandonariam o plenário e forçariam o adiamento da votação. Costa Neto aconselhou que fosse tomada uma decisão após o almoço.
Amazônia
FHC prometeu ontem rever o volume de recursos destinados para a Amazônia, este ano, a fim de iniciar novas obras na região.
A promessa do presidente foi feita durante audiência concedida a 62 deputados e dez senadores que integram a Bancada Parlamentar da Amazônia. O valor dos novos recursos e as novas obras não foram anunciados por FHC.
Segurança
Os vidros do plenário da Câmara deverão ser reforçados depois das manifestações de grupos contrários à quebra do monopólio da Petrobrás. Durante a votação da emenda constitucional anteontem, manifestantes forçaram o vidro que isola as galerias do plenário.
A proposta seria revestir o vidro com uma película especial que reforça sua resistência, impedindo que se quebre.

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