São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Importador quer trazer mais 100 mil carros

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os importadores querem que o governo garanta a a entrada no país de mais 100 mil veículos até o final do ano.
Emílio Julianelli, presidente da Abeiva (associação dos importadores), diz que esse é o total de carros que já receberam autorização de importação.
``Não aceitamos o artigo 17 da minuta da MP, que prevê cancelamento das guias de importação já emitidas. Elas se referem a negócios fechados", explica Julianelli.
O presidente da Abeiva diz que as 32 marcas filiadas à entidade têm 40 mil unidades nos portos, 25 mil em navios a caminho do Brasil e outros 35 mil carros em produção.
Para Julianelli, a proposta de limitar a importação até o final deste ano em 47 mil veículos (3% da produção nacional registrada em 94) é ``inaceitável".
Ele disse ter recebido a garantia dos ministros José Serra (Planejamento) e Dorothéa Werneck (Indústria e Comércio), de que o setor será chamada a discutir a medida e propor alterações, mesmo após a sua edição.
Os importadores que representam as marcas sem fábricas no país não se dizem contra o sistema de cotas de importação. Eles contestam a fatia de mercado destinada ao setor.
Para eles, o limite de 5% da produção nacional (cerca de 85 mil unidades), previsto para vigorar a partir de 96, é insuficiente. ``É um percentual muito baixo para que o setor possa manter os investimentos", diz Julianelli. ``Estamos dispostos a aceitar um limite entre 10% e 12%", afirma.
Eduardo Souza Ramos, diretor da Mitsubishi do Brasil, considera a adoção de cotas para o setor ``inevitável". Para ele, o ``correto" seria limitar as importações em 10% da produção.
Diz que o setor sobrevive com o índice de 5%, mas será necessário se adequar à realidade. ``Vamos ter que enxugar nossa estrutura se o volume de carros for menor".
Ramos critica também os incentivos à instalação de novas montadoras no país, previstos na minuta da medida provisória.
Segundo Ramos, eles são muito ``tímidos" e favorecem mais a ampliação das fábricas já existentes do que a entrada de novas marcas no mercado.
Aumento de preços
Na opinião dos importadores, o consumidor vai sentir já nas próximas semanas os efeitos do sistema de cotas. O carro importado vai ficar mais caro e os modelos mais simples devem desaparecer do mercado.
Essa será a consequência, segundo eles, da redução de oferta. Com estoque menor e sem possibilidade de renovação, as empresas poderão voltar a trabalhar com as margens de lucro praticadas no início do ano, quando havia filas de espera nas lojas.
``O carro importado está barato, porque fomos obrigados a abrir mão das margens de lucro após o aumento da alíquota de 70%", explica Souza Ramos.
Outra efeito da medida: carros como Twingo, da Renault, Vivio, da Subaru, Swift, da Suzuki, e o 106, da Peugeot, podem se tornar mercadoria rara no mercado.
Isso porque marcas que possuem linha completa de produtos podem preencher sua cota de importações com os modelos mais luxuosos, que dão mais lucro, deixando de lado os carros ``populares" e básicos.
A fusão entre empresas pode outro resultado da política de cotas. Importadores avaliam que marcas com menor participação de mercado ou que trabalhem apenas com veículos de pequeno valor, não conseguirão sobreviver sozinhas e terão que se unir a empresas com melhor estrutura e linha completa de veículos.

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