São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Tucupy traz cozinha da Amazônia a SP

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Boa nova: o pobre panorama da cozinha brasileira de São Paulo ganhou um alento recente, com a abertura do restaurante Tucupy.
É isso mesmo: o nome não mente ao evocar a cozinha da Amazônia. É dos pouquíssimos disponíveis na cidade, com um asseio raro e uma comida com atrativos na aparência e no sabor.
A inspiração vem, mais precisamente, de Belém do Pará, terra de um dos proprietários, o ator Paulo Leite Filho, 44, sócio, neste empreendimento, de Fernando Fortuna Jarra, 34, paulistano, antigo franqueado do bar Chez Michou.
O cardápio é inteligente por se contentar -ao menos nestes meses iniciais- com uma oferta contida, mas que contempla todos os chavões que fazem os gourmets suspirarem pela cozinha indígena do Norte do Brasil.
Os ingredientes empregados (trazidos regularmente de avião, segundo os proprietários) têm saborosa sonoridade brasileira.
O tucupi, sumo da mandioca brava lentamente curtido para -diz-se- perder o veneno. O piracuí, farinha de peixe. O jambu, verdura que dá a sensação de anestesiar a língua (embora aqui não parecesse muito potente). E os pratos que deles derivam - como o tacacá, sopa de tucupi, goma de mandioca, camarão seco e jambu.
Como o restaurante fica nos Jardins, a primeira oferta ao visitante, no aperitivo, é uma frozen margarita, o drinque da moda, mas feita com cupuaçu.
Além de escrita errado (como em todo lugar, a pobre bebida ganhou nome de pizza, margherita), a troca do suco de limão pela grossa polpa do cupuaçu dá ao coquetel consistência de sopa.
Em compensação, os aperitivos mais sólidos são bem resolvidos, caso dos bolinhos de pirarucu (peixe de rio) ou de piracuí (a farinha), servidos com uma pimenta de cheiro branda e aromática.
Embora originário da Bahia, o vatapá (mais leve no Pará, sem castanhas nem dendê) é uma glória do restaurante: cremoso, temperado com parcimônia e enriquecido com delicado sabor dos camarões que lhe dão corpo.
Decepção é o pirarucu: peixe, conservado num processo que lembra o bacalhau, chegou salgado à mesa; só foi salvo pelo miúdo e gostoso feijão de Santarém, servido frio com vinagrete.
São outras especialidades a maniçoba, cozido de folhas de mandioca e carne de porco (um prato leve, acredite); e o pato no tucupi, de carne um pouco ressecada em molho de tucupi e jambu.
Como sobremesa, sorvetes de frutas do norte (açaí, cupuaçu, taperebá, graviola) -importados da sorveteria Cairu, de Belém.

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