São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Juros e transparência

Estão pouco claras as informações que o governo dá a respeito da queda dos juros, a partir do instante em que o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso considerou-os ``escorchantes".
A primeira informação, dada pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, era de que os juros só baixariam quando a economia se desaquecesse e quando houvesse indícios firmes de avanço das reformas.
Ambas as precondições parecem dadas. Já há uma desaceleração nítida no crescimento econômico, conforme avaliação virtualmente consensual. E parece certo que o governo conseguirá a aprovação de todas as emendas constitucionais relativas à Ordem Econômica.
Agora, na iminência de ocorrerem as duas precondições para a queda dos juros, o presidente levanta um terceiro pré-requisito, não mencionado antes. FHC diz, agora, que só após a desindexação da economia se poderá pensar em juros menos ``escorchantes".
A necessidade de desindexar a economia é tão óbvia que dispensa maiores comentários. É até razoável supor que isso contribuiria para aumentar a confiança na estabilização, estimulando a entrada de capitais. Mas levantar apenas agora a vinculação entre desindexação e juros sugere falta de transparência. A realidade é que o Brasil precisa oferecer juros muito elevados para poder captar dinheiro externo, sob pena de abrir um enorme rombo nas suas contas externas.
O balanço de serviços (juros da dívida, royalties etc.) consumirá este ano não menos de US$ 15 bilhões. Mesmo que o superávit comercial ficasse no nível inicialmente estimado pelo governo em US$ 5 bilhões -saldo hoje de obtenção extremamente difícil-, ainda assim o déficit seria de US$ 10 bilhões. É também para cobrir essa diferença que o país precisa de capitais externos, que só virão, nas condições atuais, atraídos por taxas de juros realmente muito altas.
Há quem defenda uma desvalorização do real para corrigir o desequilíbrio externo por meio de uma recuperação da balança comercial. Mas mexer no câmbio agora poderia ter efeitos perversos tanto no combate à inflação -maior trunfo do governo FHC- quanto no esforço de atrair capitais, já que poderia afetar a confiança dos investidores internacionais.
Nesse sentido, é curioso notar que o Brasil, se não tem as desvantagens representadas pelo compromisso legal da paridade assumido pela Argentina, tampouco tem a conveniência que esse sistema propicia de reduzir a incerteza quanto a variações cambiais.
Sem correr os riscos de mexer no câmbio, o governo não tem alternativa no curto prazo a não ser manter mesmo os juros elevados. A dúvida que cresce cada vez mais é se as taxas não estão elevadas em demasia, custando ao país mais do que seria necessário para atrair capital e fechar as contas externas. Em meio a uma situação tão delicada, o governo deveria esforçar-se para dar o máximo de tranquilidade e horizonte para o mercado.

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