São Paulo, sexta-feira, 9 de junho de 1995
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Faltou gás, mas o Brasil ganhou

PAULO PEREIRA DA SILVA

Venceram a democracia e o bom senso. Venceu o Brasil das reformas, que, assim, vai pondo fim aos monopólios, erradicando o corporativismo, enfrentando e derrotando o entulho do atraso e a impunidade dos privilegiados.
É este, paradoxalmente positivo, o resultado para o conjunto da sociedade da desastrada greve imposta aos funcionários da Petrobrás por um grupo de sindicalistas e políticos irresponsáveis e levianos.
Positivo por se tratar da derrota de um movimento manipulado pelas tropas da anti-reforma, que nasceu político e, diante do iminente fracasso e repúdio social, foi marotamente transformado em um movimento ``puramente" salarial.
Para os trabalhadores petroleiros -fantasticamente enganados e traídos por essas supostas lideranças- restaram imensas dificuldades e graves prejuízos financeiros, dias de muita tensão, sofrimentos e incertezas para suas famílias e o quase genocídio a que foram conduzidos enquanto categoria pela cúpula da FUP, pela direção da CUT e por alguns políticos do PT.
E para nós, conjunto do movimento sindical, sobraram o isolamento e o desgaste. A confusão de um povo ainda mal informado e que, infelizmente, pouco nos diferencia. Que ainda desconhece, na sua maioria, que nós, da Força Sindical, como sindicalistas responsáveis, fomos os primeiros, durante a greve, e quando ela começou a penalizar a população, a considerar que os petroleiros, mesmo atropelando seus hipócritas dirigentes, deveriam voltar ao trabalho e exigir negociações com a empresa.
O resto são bravatas. Como as de Spis Jones -``comandante da FUP"- de que ``a greve foi vitoriosa porque os petroleiros saíram de cabeça erguida". Avaliação somente comparável às do outro Spis, o Jim, que do fundo de sua tumba também deve estar imaginando: ganhamos, porque, afinal, estamos todos aqui mortos.
Ou então do já folclórico Vicentinho, atualmente careca também de liderança real e de seriedade: ``O governo deve se preparar para os conflitos que virão, as greves não vão parar por aí". Até parece piada... como a carta a FHC do missivista Lula.
Na verdade, o governo, preparado e esperto, quebrou a espinha dorsal do movimento com muita sabedoria política e nenhuma violência, nem ao menos um simples tapa para facilitar o pretexto dos eternos ávidos por uma saída ``honrosa", que sempre buscam botar a culpa na repressão. Ao meu ver, seu único erro foi ter apelado para a segurança do Exército, isso FHC sabe que não é bom e também se mostrou desnecessário.
Firme e tolerante, com a mídia favorável e a população idem, o governo foi derrubando dia após dia o castelo de cartas daqueles que queriam mandar no país mesmo sem ter os votos suficientes. Que pensaram substituir as instituições democráticas por se acharem possuídos da torneira -esta sim ainda única- que abastece de combustível o Brasil.
Agora para nós, trabalhadores de outras categorias, resta enfrentar juntos com os companheiros as consequências dessa derrota e arrumar meios e modos para ajudar os petroleiros. É preciso solidariedade, e nós, metalúrgicos de São Paulo, somos solidários. Nosso sindicato está aberto e à disposição dos petroleiros e de suas famílias, mas não aos líderes golpistas e irresponsáveis que devem ser repudiados e destituídos no voto, por suas bases descontentes.
Ao governo de FHC cabe a generosidade dos vencedores e não a arrogância dos poderosos. Cabe reconhecer que há reivindicações salariais justas a serem negociadas. Que os prejuízos sofridos nesses dias pela grande maioria dos trabalhadores precisam ser equacionados, e as punições a funcionários honestos e indefesos devem ser imediatamente revistas.
A Força Sindical tem na imensa maioria da família petroleira seus irmãos. Ao longo da greve e agora, após a derrota, temos sido procurados por inúmeros companheiros petroleiros temerosos do futuro com a forma cutista de fazer política. Temos pedido paciência e dito que a melhor resposta a esses irresponsáveis é a organização de uma nova e eficiente força sindical dos petroleiros democráticos. Moderna, aberta ao diálogo, firme e inteligente na luta. Não atrelada aos agonizantes ideólogos do monopolismo e que se insubordine a essa velha estrutura comandada pelos políticos privilegiados de sempre.

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