São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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DEPOIMENTO

``Numa tarde, chovia muito e nós estávamos sozinhas trancadas no meu quarto. Joana de repente me perguntou se eu já tinha beijado alguém na boca e com língua. `Não, você já?' `Eu já, é uma delícia, quer ver como é?' Respondi: `Quero'. Ela tirou os meus óculos e me beijou na boca, um beijo de língua, um beijo delicioso, que fez a perna estremecer e tudo em volta silenciar (Tinha 12 anos).
Charles Bronson era o favorito de cada três alunas do Sion de Curitiba no fim dos anos 60. Eu achava aquilo incompreensível e intimamente pensava que ir para a cama com Charles Bronson não poderia ser sexo, mas sim estupro.
Eu começava a me achar muito mais interessante que as mulheres heterossexuais porque parecia carregar sempre comigo uma desobediência. Eu era um pecado vivo que andava, vivia e respirava. Eu era um espírito imundo, desviada do rumo de Cristo.
Estávamos sempre escondidas. Mesmo quando ríamos, tínhamos que mostrar uma certa infelicidade: o desconforto de ser homossexual. Talvez fosse pecado uma mulher ser lésbica e se sentir bem ao mesmo tempo. Tínhamos que ser feias, masculinizadas e infelizes. Um pouco gordas, quem sabe.
De vez em quando aparecia uma mulher de outro Estado, prima de alguém, amiga de alguém. Era a novidade da semana. No Incógnito (bar gay de Curitiba, que não existe mais), todas as lésbicas faziam apostas para ver quem levaria a novidade para a cama. Não importava se era uma troca de orgasmo por orgasmo. Era uma troca de orgasmo interestadual.
Eu detestava aquelas mulheres que num dia se diziam bissexuais, no outro homossexuais-por-uma-fase, ou ``eu gosto das pessoas em si, não importa o sexo". Detestava mulheres dissimuladas. Queria alguém conscientemente desviada da moral oficial."

Trechos de ``Pecados Safados", de Betti Brown

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