São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Prefeito põe prostitutas para varrer ruas em PE

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ÁGUA PRETA (PE)

A Prefeitura de Água Preta, na zona da mata de Pernambuco, descobriu um modo original de erradicar a prostituição na cidade: o prefeito César Romero do Nascimento Lyra (PDT), 24, fechou os prostíbulos locais e contratou 17 prostitutas para trabalhar no serviço de limpeza das ruas.
As mulheres contratadas estão impedidas de voltar a se prostituir, sob pena de demissão, diz Lyra. Mas podem fazer ``bicos" em outras atividades para melhorar a renda mensal.
Como funcionárias públicas, elas ganham salário de R$ 24 por mês e mais o equivalente a R$ 30 em alimentos fornecidos pela prefeitura. O salário mínimo no país é de R$ 100. Como prostitutas, elas ganhavam em média R$ 5 por ``programa".
O município está gastando mensalmente R$ 918 para manter as 17 mulheres empregadas. O valor representa 50% do salário de um dos nove vereadores locais.
As mulheres que não se interessaram pelo trabalho na prefeitura deixaram Água Preta -cidade com 38 mil habitantes. As 40 casas que pertenciam à zona do meretrício estão agora ocupadas por famílias da cidade.
Três mulheres contratadas abandonaram o emprego no setor de limpeza das ruas, porque não se adaptaram ao serviço, e se mudaram para São Paulo.
O prefeito diz que decidiu acabar com os prostíbulos por causa de reclamações de moradores e da violência. Segundo ele, registrava-se pelo menos um assassinato por semana dentro da área de prostituição da cidade.
O município de Água Preta é um dos mais pobres do interior de Pernambuco, localizado em uma região que sobrevive da monocultura da cana. A prefeitura estima que Água Preta tenha de 3.000 a 4.000 trabalhadores desempregados, que dependem da ajuda de órgãos públicos para sobreviver.
Maria de Barros, 43, uma das contratadas pela prefeitura, diz que sua vida está melhor hoje. Ela se prostituiu durante 14 anos.
``Ganhamos pouco na prefeitura, mas podemos andar livremente nas ruas e até as mulheres casadas já conversam com a gente, coisa que não faziam antes."
Lyra, apontado pela Justiça Eleitoral o prefeito mais jovem do Brasil, conta que a idéia de acabar com a zona do meretrício da cidade surgiu há um ano e meio.
``Ninguém mais precisa vender o corpo por trocados e nem se sujeitar a doenças como a Aids", afirma o prefeito, filho do delegado de polícia e deputado estadual pelo PFL Enoelino Magalhães.
O fechamento das casas está causando problemas para José Calado, 62, administrador do zoológico local. Segundo ele, muitos casais têm usado a área do zôo para -em suas palavras- ``furar o couro", ou seja, manter relações sexuais. Nas proximidades da jaula da onça, a reportagem da Agência Folha encontrou um preservativo usado.
``Eu aumentei a vigilância, mas é difícil controlar os namorados", diz Calado. Há quem prefira, no entanto, dirigir-se a Palmares, cidade vizinha, onde a prostituição funciona normalmente.
Lyra considera ``quase impossível" acabar inteiramente com as prostitutas, mas, com o fechamento da zona, acredita ter eliminado 90% do problema na cidade.

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