São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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`Torpedeiros' sobrevivem nos bares de São Paulo

Mensagens em guardanapos aproximam as pessoas

ALESSANDRA BLANCO; PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ``torpedeiros", homens e mulheres que costumam mandar bilhetes anônimos em guardanapos, resistem em bares de São Paulo.
As mensagens, mais que de amor, falam de conquista -muitas vezes sexual- e variam entre elogios à beleza, brincadeiras maliciosas ou números do telefone.
Receber um torpedo pode acabar em amor à primeira vista ou decepção total, dependendo da aparência de quem manda.
A tese é das amigas Daniela Tapxure, 21, Emanuelle Lopes, 19, e Veruska dos Santos, 18, frequentadoras do bar Musetta, nos Jardins (zona oeste de SP).
``A maioria dos torpedos vem de caras feios. Eles são mais cabeça e tentam mostrar seu outro lado nos bilhetes", diz Daniela.
Para as três, o efeito Cyrano de Bergerac -personagem que tinha uma aparência grotesca e conquista uma linda mulher apenas com cartas de amor- não funciona.
Mesmo assim, elas já se derreteram ao ler frases como ``você é a razão do meu viver" e ``eu sei que vou te amar".
No Musetta, os garçons também entregam o ``Drinque do Amor", uma mistura de rum malibu, suco de abacaxi e leite de coco, decorada com um coração de abacaxi tingido de vermelho.
Segundo o comerciante Ricardo Atchabahian, 26, o torpedo alcoólico funciona. ``Na mesma noite levei a garota para um flat", diz. Na última quinta, ele usou a tática para tentar conquistar Daniela.
Alguns bares de solteiros, como o Zeibar's, formalizaram a brincadeira. A casa emprega garotas que passeiam oferecendo cartões em branco para aproximar casais.
Há um ano, Marta Costa, 38, conheceu no bar um americano, funcionário da Ford, que estava de passagem pelo Brasil a negócios.
Sem falar português, ele pediu a uma garota que escrevesse um bilhete e entregasse a Marta.
``Ele dizia que tinha me escolhido para ser sua professora de português", afirma Marta. Na época, os dois saíram várias vezes e ele acabou vindo mais ao Brasil até que decidiu se mudar de vez.
``Ele está chegando em três meses e, agora, se ficar sério, vou contar para os meus filhos", diz.
A microempresária Rogéria Spigolon, 30 é adepta antiga do torpedo, na época em que se chamava ``correio elegante".
Seus elogios escritos em guardanapos e entregues nos bares ou restaurantes para os homens ``tímidos e interessantes" já renderam um caso de dois anos.
``Só consigo me interessar por homens discretos e, quase sempre, tímidos. O bilhete entregue pelo garçom é uma boa maneira de me mostrar para ele."
Rogéria nunca coloca o telefone no torpedo. Normalmente indica onde está sentada no bar e faz um ``elogio discreto" ao alvo.
Às vezes, resolve ser mais ousada e escreve que já está de olho há algum tempo e não consegue mais se controlar.
(ABl e PD)

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