São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Ministro ameaça com demissão

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A Folha apurou que o presidente Carlos Menem sabe que o ministro da Economia, Domingo Cavallo, é a marca do plano de estabilização adotado em abril de 91, mas não gosta dos resultados da política de Cavallo: mais desemprego e recessão.
A manutenção de Cavallo funciona para o mercado internacional e para o empresariado argentino como um certificado de que não haverá surpresas, como uma desvalorização cambial. O ministro sabe disto e usa este argumento nos momentos de crise.
Sempre que teve problemas com colegas do governo, Cavallo ameaçou pedir demissão e contou com o apoio de Menem. Na semana passada, isto não aconteceu.
O próprio Cavallo veio a público dizer que membros do governo queriam a sua renúncia, mas que o presidente o desejava no cargo. Até agora, Menem mantém silêncio sobre as brigas do ministro.
Cavallo começou a enfrentar um bombardeio dentro do próprio governo e de figuras de primeira linha do esquema menemista -o secretário geral da Presidência, Eduardo Bauzá, e o presidente do Senado, Eduardo Menem, irmão do presidente da República.
Além da disputa pelo poder na nova estrutura administrativa que o governo Menem terá no segundo mandato do presidente, o ataque a Cavallo inclui crítica a falta de habilidade do ministro para gerenciar a crise econômica.
Quase um mês após a reeleição de Menem, Cavallo não adotou nenhuma medida efetiva para reordenar o sistema bancário, reduzir o desemprego e equilibrar as contas públicas.
Cavallo não consegue convencer nem seus aliados, entre entidades de empresários e banqueiros, de que conseguirá cumprir as metas de receita tributária e superávit nas contas públicas em 95.
Banqueiros e empresários esperam uma renegociação com o FMI (Fundo Monetário Internacional) ou uma contratação de empréstimo junto aos bancos comerciais para permitir fechar as contas públicas.
O ex-ministro da Indústria e Comércio Roberto Lavagna lembra que a diferença entre a arrecadação projetada com o FMI e a receita efetiva de abril foi de US$ 400 milhões.
Em maio, a arrecadação de impostos ficou US$ 650 milhões abaixo da meta fixada junto ao FMI. Para junho, Lavagna espera resultado pior: a diferença pode atingir US$ 900 milhões.
A situação tende a piorar até o final de 95. A principal fonte de arrecadação de tributos na argentina é o IVA (Imposto sobre Valor Agregado).

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