São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Moderna biologia não existe sem Darwin

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A teoria da evolução darwiniana tinha, e mostrou, potencial evolutivo dentro da ciência. Já o marxismo e o freudianismo estão hoje mais próximos da religião.
O velho comunista alemão Karl Marx (1818-1883) e seus seguidores só continuam sendo levados a sério em universidades do Terceiro Mundo, como as brasileiras.
Depois do fim do ``socialismo real" soviético, Marx, marxismo e o suposto socialismo ``científico" passaram a ser apenas uma curiosidade intelectual. Qualquer um pode pesquisar história ou sociologia sem parar para pensar no que disse o barbudo revolucionário.
O exótico fundador da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud (1856-1939), nunca foi digerido pela ciência. Apesar de ter um número considerável de seguidores, os freudianos são apenas uma seita entre várias. É possível estudar psicologia sem levar em conta o que o talentoso escritor de Viena proclamou.
Já a moderna biologia não existe sem a teoria da evolução darwiniana. Muito daquilo que Darwin escreveu em 1859 continua válido na era da biologia molecular e da engenharia genética.
Curiosamente, o mundo poderia estar usando outro termo que não ``darwinismo". Ao mesmo tempo que Darwin, seu compatriota Alfred Russel Wallace (1823-1913) teve a mesma idéia: o motor da evolução é uma espécie de ``seleção natural".
Darwin estava demorando para divulgar sua teoria. Já tinha parte dela por escrito. Levou um susto quando Wallace lhe comunicou a mesma idéia básica. Foi salvo por amigos que insistiram para que ele e Wallace comunicassem ao mundo suas idéias conjuntamente.
Com o sucesso do livro ``A Origem das Espécies", a teoria entrou na história como darwinismo, e não ``wallacesismo" ou algo assim.
Demorou, porém, para que o chamado ``darwinismo" fosse aceito. E não foi por que o ser humano -feito à semelhança de deus, segundo os cristãos- descenderia de macacos.
O problema era descobrir como essas características genéticas favoráveis passavam de pai para filho. Ironicamente, foi um monge, Gregor Mendel (1822-1884), que lançou as bases da explicação da transmissão dos caracteres hederitários.
Outros pesquisadores, já no século 20, juntaram Darwin e Mendel e outras descobertas, criando a chamada teoria ``sincrética", ou ``neodarwinista". Um dos grandes criadores da síntese, Theodosius Dobzhansky (1900-1975), trabalho alguns anos no Brasil, o que muito ajudou para colocar universidades como a USP no caminho certo das modernas pesquisas em biologia.
Não há contestações sérias a Darwin. Mesmo as teorias mais heréticas em biologia, como a do ``equilíbrio pontuado de Stephen Jay Gould e Niles Eldredge, procuram apenas aperfeiçoar o modo como a seleção natural age (veja ilustração)
(RBN).

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