São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Lista dos produtivos mobiliza cientistas

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 15/06/95
O professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (SP) Mário R. Montenegro, citado na reportagem "Lista mobiliza cientistas", à página 5-15 do caderno Mais! do último domingo, é patologista e não paleontologista como foi publicado.
Lista dos produtivos mobiliza cientistas
Desde que foi publicada pelo Mais! em 21 de maio, a ``lista dos produtivos" vem desencadeando reações no meio acadêmico que não se viam desde 1988, quando a Folha publicou um levantamento feito pela reitoria da Universidade de São Paulo (USP) contendo os nomes dos docentes que nada teriam publicado entre 1985 e 1986.
O debate que se travou há sete anos em torno dos ``improdutivos" tem muitos pontos em comum com o que eclode agora. Dos elogios às críticas, passando pelas reações de índole corporativa ou a discussão sobre os critérios que devem nortear a avaliação da pesquisa científica, há espaço para as opiniões mais desencontradas.
Mas parece haver um denominador comum na avaliação dos personagens envolvidos: cada vez que uma publicação como esta ocorre, o mundo fechado da academia ganha um pouco mais de transparência perante a opinião pública e se vê compelido a repensar suas responsabilidades.
A ``lista dos produtivos", como foi batizada pela Folha, traz os nomes dos 170 cientistas brasileiros cujos trabalhos teriam causado mais impacto no meio científico mundial entre 1981 e 1993.
O levantamento foi feito a partir de uma base de dados do ISI (Instituto para Informação Científica), dos EUA. É a instituição privada mais renomada mundialmente por seu trabalho de indexação de publicações científicas.
Com base em 7.500 revistas científicas, foram listados os pesquisadores que obtiveram 200 ou mais citações. Apenas 170 brasileiros atingiram a marca -cerca de 0,85% da comunidade científica do país.
O lado esclarecedor da ``lista dos produtivos" é enfatizado, por exemplo, pelo físico Luiz Carlos Moura Miranda, 51, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Em 34º lugar na lista, Miranda avalia que ela ``serve para despertar as instituições de pesquisa e os próprios reitores, que prestarão mais atenção à avaliação".
Mas ele levanta objeções e faz reparos aos critérios adotados. ``O universo de revistas do ISI não contempla todas as áreas. Algumas acabam comprometidas e o resultado final pode apresentar um quadro distorcido", diz.
Posição semelhante tem o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Márcio Soares.
Em carta à Folha, Soares faz ressalvas relativas à sua área. ``Os parâmetros usados no estudo induzem à conclusão, absurdamente falsa, de que a matemática produzida no Brasil é irrelevante no cenário mundial", diz.
Segundo Soares, ``os dados fornecidos pelo ISI devem ser lidos levando-se em conta os tamanhos das distintas comunidades de pesquisadores (...) No âmbito mundial, a comunidade de pesquisadores em matemática é cerca de três vezes menor que a comunidade de físicos e a comunidade biomédica é certamente 15 vezes maior que a de matemática."
A mesma linha é defendida por Mário Montenegro, professor emérito de Paleontologia da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo).
Em carta à Folha, Montenegro argumenta que ``trabalhos referentes a áreas menores, em que o número de pesquisadores é pequeno, como paleontologia, micologia e a própria meteorologia, poderão ser revolucionários, porém, nunca receberão centenas de citações. Não porque seu universo seja menos importante, mas simplesmente porque é menor".
Uma visão inusitada, diferente das que surgiram através de cartas e artigos enviados à Folha, aparece na avaliação do engenheiro e economista Renato Dagnino, 46, que não aparece na lista.
Professor titular do Instituto de Geociência da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ele dá um curso de pós-graduação de Política Científica e Tecnológica.
Segundo Dagnino, a discussão está mal posta e as intervenções de seus colegas, com raras exceções, são reações corporativas.
``A América Latina é conhecida em termos acadêmicos pela teoria da dependência. Essa é a nossa maior contribuição à ciência, onde se obteve maior prestígio internacional sem que seus formuladores estivessem presos à perspectiva ingênua de correr atrás de citações em revistas estrangeiras", diz.
Quando fala na teoria da dependência, Dagnino não se refere a um único trabalho. Tem em mente várias obras, publicadas na América Latina sobretudo nos anos 60, que tentavam explicar qual era a especificidade da subordinação das economias periféricas em relação às economias centrais dentro de um único sistema -o capitalismo.
Por acaso ou não, um dos trabalhos que deu formulação mais acabada à questão da dependência é assinado pelo atual presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Dagnino cita de caso pensado a teoria da dependência para assinalar que seus colegas cientistas estão confundindo ``qualidade" com ``prestígio internacional". ``Há uma assimilação indevida entre os dois conceitos. O que o ISI mede é prestígio e não qualidade."

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