São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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DNA produz vacinas mais eficientes

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1990, o acaso contribuiu para uma das maiores descobertas biotecnológicas recentes: a inserção espontânea do DNA (matéria prima dos genes) em células de animais vivos, que passaram a produzir proteínas estranhas.
Philip Felgert e Robert Maloane, da empresa biotecnológica Vical (EUA)-, juntamente com um grupo chefiado por Jon Wolff, da Universidade de Wisconsin, Madison (EUA), tentavam forçar camundongos vivos a produzir novas proteínas por meios químicos.
Como controle, usavam camundongos que apenas recebiam o DNA, sem o tratamento químico.
Com grande surpresa, os pesquisadores observaram que, nos controles, ocorria a pronta inserção espontânea do DNA.
As células musculares assim tratadas entravam a produzir espontaneamente alto teor de proteínas estranhas.
Os cientistas logo perceberam o interesse teórico e prático da descoberta. As proteínas têm a capacidade de estimular o sistema imune à fabricação de substâncias que reconhecem, atacam e destroem os agentes patogênicos.
O grau de pureza das proteínas assim geradas nos camundongos vivos, em comparação com as quimicamente obtidas e sua abundância, levaram a pensar em sua utilização como vacinas.
Aos dois grupos pioneiros, juntou-se nessa tarefa o dos Merck Research Laboratories, em West Point, Pensilvânia (EUA), integrado por Margaret Liu e outros.
O grupo total decidiu tentar a produção de uma vacina de DNA contra a influenza (gripe) A, a partir desses dados.
O artigo em que foi publicado o resultado geral das experiências (em animais), coroadas de êxito, apareceu em ``Science" (259, 1745). Nesse mesmo exemplar, John Cohen dá outras notícias, algumas das quais aproveitamos.
Os mais otimistas prevêem que, com DNAs isolados, será possível ``engenheirar" muitas vacinas, inclusive contra Aids e câncer, assim como vacinas de ação múltipla (pela mistura de DNAs de diferentes agentes patogênicos).
As vacinas contra influenza em uso costumam ser produzidas com vírus quimicamente morto, usando-se apenas seu revestimento.
Mas como esse revestimento é muito mutável, a ação da vacina é precária, uma vez que o vírus contra o qual foi preparada pode mudar de revestimento.
A vacina de DNA não corre esse perigo, segundo se verificou experimentalmente. Essa vacina é preparada não a partir do revestimento do vírus, mas de suas nucleoproteínas interiores que, depois de diversas ``manipulações" operadas pelo próprio conteúdo do vírus, emergem à superfície e ficam em condições de detectar e atacar os elementos patogênicos.
Não só as células musculares podem ser estimuladas à produção de proteínas vacinantes. Harriet Robinson, da Universidade de Massachusetts, iniciou a fabricação de vacinas pela injeção de galinhas e camundongos com genes relativos a uma proteína de revestimento de vírus.
Chegaram a produzir gotas nasais com a mesma técnica básica e com êxito (as células atingidas são epidérmicas).
Em colaboração com Joel Haynes, da Agracetus (EUA), Robinson revestiu mínimas esferas de ouro com DNA e injetou-as por meio de uma ``metralhadora de genes" na pele daqueles animais, obtendo, ao que alegam, proteção superior (100% contra 90%) à da vacina preparada pelo grupo Vical-Wisconsin-Merck.
Quanto a esse tipo de vacina (de DNA) resta apurar se o DNA inserido se integra no genoma do paciente, o que representaria evidente perigo como possível causa de doença, inclusive câncer.

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