São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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'Esquecidos' que publicaram no exterior não se arrependem

PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.; FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O pesquisador Gilberto de Nucci é um dos cientistas que teriam sido "esquecidos" pela "lista dos produtivos". Apesar disso, ele acredita que as eventuais ausências são reflexo da forma como se faz ciência aqui.
"Infelizmente, nossa produtividade científica é baixa e cara. Grande parte dos trabalhos relevantes de brasileiros foi feita no exterior. Acho que a lista mostra isso de certa maneira", diz de Nucci, 37.
O pesquisador -que trabalha no Departamento de Farmacologia da Unicamp e é professor visitante da Universidade de Nápoles (Itália) e da Universidade de Calgary (Canadá)- se refere ao fato de a lista não computar trabalhos de alguns brasileiros feitos em universidades no exterior.
Essa é, inclusive, a explicação para sua ausência na lista. Segundo ele, no período levantado (81 a 93), seus trabalhos obtiveram 1.729 citações, mas, como boa parte foi feita no exterior, não apareceram no levantamento.
Um desses trabalhos, publicado na Inglaterra em 1988 junto com o Prêmio Nobel de Medicina John Vane, foi considerado "hot paper" (alto número de citações). Até 93, havia recebido 657 citações. Hoje, teria 1.000 citações.
Além disso, de Nucci acha que o número de citações também depende do momento em que o trabalho foi publicado. "É uma questão de moda."
Ele cogita que talvez seu "hot paper" sobre a endotelina -uma substância vasoconstritora- não tivesse tanto impacto se publicado hoje.
"O investimento da sociedade nas universidades é muito maior que o retorno oferecido por estas. Por isso, acho que as imperfeições da lista são secundárias. Mais reportagens do gênero deveriam ser feitas", diz.
Outro pesquisador que alega ter sido "esquecido" pela lista é George Alexandre dos Reis, professor titular de Imunologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Eu me senti prejudicado pelo fato de não estar na lista. Obtive até o ano passado 453 citações. Por que não apareço?", pergunta.
A resposta que ele mesmo dá é a seguinte: "Os meus trabalhos mais citados foram feitos nos EUA, quando eu não estava vinculado a nenhuma instituição brasileira. Não entrei na lista por não me adequar aos critérios do ISI", diz.
Segundo Reis, "os cientistas brasileiros nunca se preocuparam em levantar uma lista como a que a Folha publicou".
Em função disso, diz ele, "a lista é muito útil, mas não pode ser confundida com uma espécie de `quem é quem' no mundo científico porque não considera todos os parâmetros que tornaria tal levantamento conclusivo".

Colaborou FERNANDO DE BARROS E SILVA, especial para a Folha

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