São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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TV e Cultura

A crise que se abate sobre a TV Cultura de São Paulo oferece a oportunidade para refletir sobre o papel da TV pública. É inegável que TVs públicas com programação voltada basicamente para as áreas de educação e cultura devem existir e isso -como é óbvio- requer subsídios do governo.
Mas há uma enorme diferença entre financiar um canal de TV com alta relevância social e deixar que o dinheiro do contribuinte seja administrado sem a devida atenção. Como ocorre com toda empresa pública, a Cultura parece caminhar muito perto da segunda hipótese.
Apesar de a Fundação Padre Anchieta, a responsável pela Cultura, felizmente estar livre de ingerências políticas por parte do governo e de produzir uma programação de qualidade, ao que tudo indica ela não está livre dos vícios típicos do setor estatal: estrutura funcional inchada, desperdício e má aplicação dos recursos de que dispõe.
Tradicionalmente sustentada pelo Estado, a TV Cultura simplesmente se desobrigou de procurar formas mais eficientes de gerenciamento, como o fizeram todas as empresas privadas que ainda estão operando no mercado.
Embora a Cultura esteja por força de lei impedida de vender espaço publicitário, ela dispõe de várias outras possibilidades de, com um bom gerenciamento, reduzir suas despesas e encontrar meios de aumentar suas receitas.
Há ainda outras considerações. A crise das TVs públicas não ocorre apenas no Brasil, mas em todo o mundo. O aumento dos canais a cabo e das transmissões via satélite e a pasteurização dos seriados norte-americanos incorporada ao mercado abalaram bastante as TVs públicas, sobretudo as européias.
Algumas cederam aos novos tempos e passaram a imitar o estilo de suas concorrentes comerciais, com grande perda de qualidade. Outras optaram pela manutenção de seus padrões, mas vêm perdendo audiência significativamente.
Dentro desse quadro, a experiência da Cultura é de certa forma até bastante animadora. A emissora disputa o terceiro lugar em audiência em São Paulo. A qualidade da programação também não pode ser colocada em dúvida. As principais produções recentes da Cultura abocanharam uma série de prêmios no Brasil e no exterior.
Mesmo com todos esses méritos a Cultura deve seguir a trilha da diminuição de custos e do aumento de eficiência administrativa. O Estado de São Paulo passa por uma situação financeira difícil e isso exige que o governo e todas as empresas e fundações a ele ligadas redobrem seus esforços para combater o inchaço e o desperdício. Covas, talvez até com algum exagero, acertadamente forçou a Cultura a acordar para a realidade dos novos tempos. Nas demais TVs públicas do Brasil, as TVEs, de responsabilidade federal, e nas quais o caos administrativo é maior e a qualidade da programação é pior, nada ainda foi feito.

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