São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Crise também atinge EUA e Europa

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A crise das TVs públicas não é nem nova nem privilégio brasileiro. Inovações tecnológicas, como a televisão a cabo e o satélite, forçaram a diversificação e a privatização na Europa, tradicional reduto das TVs públicas.
Nos Estados Unidos, onde a estrutura sempre foi altamente privatizada, as TVs públicas regionais lidam com questionamentos ao caráter restrito de sua programação, baixos níveis de audiência e crescentes cortes de recursos.
Falta de recursos, autonomia política, controle sobre a qualidade da programação e perda de audiência abalam a solidez das emissoras públicas. Esses quatro níveis de problema são tratados internacionalmente como faces diferentes de uma situação que exige redefinições.
Diversas alternativas financeiras foram criadas para complementar os insuficientes recursos do Estado. Na França, através do pagamento obrigatório de licenças por parte de todos os proprietários de aparelhos de televisão. Nos EUA, as emissoras contam com a colaboração financeira voluntária de telespectadores.
Os europeus passaram a tolerar ao menos algum grau de privatização. Algumas TVs públicas mantêm restrições à exibição de comerciais. Outras se abriram à propaganda.
O sucesso de audiência de programas estrangeiros como ``Dallas" em diversos países europeus, pôs em cheque o interesse e o estilo da programação de suas emissoras públicas. O ritmo lento dos documentários da BBC foi questionado pela agilidade maior dos melodramas e clipes americanos. Entrou em cena o velho problema da compatibilidade entre qualidade de programação e quantidade de audiência.
Na tentativa de manter audiência, as emissoras criam programas de auditório apelativos e procuram imitar o estilo das produções americanas. Preocupados com a descaracterização cultural, alguns governos voltam a investir, criando canais que priorizam a qualidade, como o franco-alemão Arte. E apostam na parceria com a produção independente e o cinema.
A redefinição do caráter das televisões públicas é debatida em inúmeros festivais, comissões e conferências. Fóruns como esses impulsionam novos organismos, como o ITVs americano, articulador de produções independentes para as TVs públicas daquele país.
Participamos poucos desses fóruns e temos poucos espaços parecidos. Mas neste panorama, a experiência da TV Cultura de São Paulo deve ser valorizada. Anos de investimento em uma programação infantil e adolescente rápida e ágil, inserida no horário inovador de fim de tarde, mostram que uma emissora pública pode competir no mercado sem dispensar a criatividade.

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