São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Governo deve dar prazo para investidor

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo estuda mudanças na caderneta de poupança e nos fundos de investimentos que podem entrar em vigor a partir de 1º de julho próximo, com o objetivo de alongar os prazos das aplicações financeiras.
O mercado financeiro, porém, aposta que o governo dará um prazo para que os investidores tenham tempo suficiente para se adaptar às mudanças sem sofrer prejuízos.
``A equipe econômica que está aí sempre evitou a quebra de contratos que pudesse impor perdas e não há motivos para se imaginar que vá mudar esse procedimento" afirma Cláudio Lellis, diretor de tesouraria do Lloyds Bank.
Ele acredita que o prazo de adaptação deve ficar em torno de 60 dias.
Por essa mesma razão, Fábio Vidigal, diretor de administração de recursos do Banco Patrimônio de Investimentos, associado à corretora norte-americana Salomon Brothers, e Jairo Prado, gerente de captação do Banco BCN, recomendam ao investidor manter suas aplicações inalteradas e aguardar o anúncio oficial das mudanças para decidir o que fazer.
Todos eles acreditam que o governo não anunciará nenhuma mudança que possa provocar uma fuga do dinheiro aplicado na caderneta de poupança e nos fundos de investimentos para o consumo.
Isso seria mortal para os planos do governo, que incluem a desindexação da economia, com a eliminação dos mecanismos de repasse automático da inflação passada para preços e salários.
O saldo das contas de caderneta de poupança no final de maio passado era de R$ 53 bilhões e os fundos de investimentos estavam com um patrimônio total de R$ 51 bilhões.
Para as novas aplicações, Lellis e Vidigal indicam os fundos de commodities com rendimentos atrelados ao juro do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) como a melhor alternativa.
``As taxas de juros devem permanecer altas, como disse o novo presidente do Banco Central Gustavo Loyola em seu depoimento no Senado", afirma Vidigal.
Lellis, do Lloyds Bank, afirma que ``não há clima para reduzir os juros enquanto não houver um ajuste na taxa de câmbio".
E esta hipótese de desvalorização do real em relação ao dólar, por enquanto, é descartada pelo governo, que prefere recorrer à imposição de restrições às importações -como o sistema de cotas para automóveis- para reverter os resultados da balança comercial.
Outro fator que inibe a queda dos juros, segundo Lellis e Vidigal, é o esperado repique da inflação em julho, principalmente por causa dos aumentos de tarifas estaduais (água, energia elétrica) e municipais (ônibus).
Segundo a Folha noticiou na semana passada, o governo estuda a possibilidade de manter a TR como remuneração básica da poupança e deixar o juro, hoje fixo em 0,5% ao mês, para ser livremente fixado pelos bancos.
Quanto aos fundos, um projeto que vem sendo discutido entre técnicos do BC e diretores da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) prevê uma reformulação nas suas características.
Os fundos seriam separados em três grandes grupos. O primeiro seria integrado pelos de liquidez imediata (fundões e fundos de curto prazo), mas a sua rentabilidade seria bem menor do que a de hoje.
O segundo grupo seria o dos fundos de renda fixa, mas com prazos de resgate no mínimo a cada 30 dias, podendo ser ampliado para 60 ou 90 dias.
O terceiro grupo seria formado pelos fundos de renda variável, ou de risco. Não haveria espaço para a existência de fundos de commodities ou de carteira livre de ações com perfil de renda fixa.

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