São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Pequeno Juninho tem alma de campeão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Certa vez, Otto Lara Rezende, na televisão, pediu para Nelson Rodrigues encerrar sua entrevista enviando uma mensagem aos jovens do Brasil. Nelson fitou a câmera com aquele olhar bovino e sentenciou, na sua voz pastosa e grave: ``Jovens do meu Brasil, envelheçam. Envelheçam, rapidamente!".
Nelson queria dizer que só os cabelos brancos, o tempo vivido, conferem sabedoria ao homem. E o nosso Zagallo, precocemente encanecido, teve de esperar o tempo certo para provar que ganhara a necessária sabedoria. O suficiente para levar a nossa seleção a praticar um futebol compatível com sua vocacional grandeza.
Não que Zagallo tenha inventado alguma fórmula miraculosa, nada disso, na sua volta à seleção, consagrada com a brilhante campanha em campos ingleses. A bem da verdade, o esquema é o mesmo. O que mudou, do time de Parreira, na Copa do Mundo, para o time de Zagallo, na conquista do Torneio da Inglaterra, ontem, foi o espírito da coisa. Se bem espremido, diria que tudo pode se resumir na presença de Juninho, fazendo a ligação do meio-campo ao ataque: leve, ágil, inventivo, atrevido e veloz, foi Juninho quem imprimiu a marca do novo Brasil do velho Zagallo.
Ontem, no sagrado solo de Wembley, não foi diferente: depois de um primeiro tempo desastroso, em que os ingleses tiveram o domínio da bola, do campo e do placar, em menos de 15 minutos do segundo, Juninho virava o jogo e embicava nosso futebol na direção de uma conquista inédita. O gol de falta, de inexcedível sutileza, e a bola untada de mel que serviu a Ronaldo para a confecção do segundo foram os momentos culminantes da vitória de 3 a 1 sobre uma Inglaterra feroz na marcação e insidiosa no ataque.
Os ingleses jogavam com o escudo do leão real no peito. E com o espírito assassino de seus ancestrais piratas dos sete mares. Esse número quatro, Batty, não tem nome, é um trocadilho na pronúncia brasileira. Fez com que me lembrasse daquele pequeno canalha, também número quatro da Inglaterra, na Copa de 66, Styles, o animal feroz de Liverpool, que entrou na disputa com licença para matar.
Bem que Batty tentou alijar (ou seria mais próprio aleijar?) Juninho da partida, com duas entradas criminosas exatamente no joelho do nosso pequeno craque. Juninho, porém, provou, definitivamente, que não tem apenas pernas habilidosas, mas alma de campeão. Em nenhum momento, fugiu do pau. Ao contrário: seguiu driblando, passando e correndo atrás dos grandalhões ingleses quando a bola era deles.

Confesso que eu não esperava tanto de Juninho na seleção. Amoroso, se não estivesse no estaleiro, ou mesmo Giovanni, que entrou no finalzinho do jogo, sem tempo de exibir seu futebol refinado e eficiente, eram os meus preferidos para a função da qual Juninho se desincumbiu com talento e raça. Tinha comigo fortes desconfianças de que o talhe franzino do garoto seria seu maior adversário.
Pois Zagallo, desde o primeiro momento, botou plena fé em Juninho. E provou ter aquela sabedoria que só os cabelos brancos, o tempo vivido, são capazes de conferir ao homem. Santa sabedoria...

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