São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Se o jabá existisse, ele já teria sido eliminado

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que você vai ler agora não é jornalismo. Jornalismo se faz com fatos comprovados. O que você vai ler é um amontoado de rumores, boatos e papos com conhecidos. Tudo verdade, mas se for o caso nego tudo.
Seguinte: existe uma coisa chamada jabá. Jabá é a maneira pela qual certas empresas tentam influenciar certos membros da mídia -TV , jornais e rádios.
Por exemplo, digamos que uma gravadora quer garantir o sucesso de uma determinada faixa. Uma das opções que ela tem é gastar um dinheirão com as rádios, para garantir a exposição do seu produto.
Quem entende de rádio, diz que quase todas as rádios comerciais do Brasil funcionam, em maior ou menor escala, nesse esquema.
Esse dinheiro pode entrar diretamente na rádio, via anúncios, pelo departamento comercial. Pode entrar por baixo do pano, no bolso de um diretor de programação.
É claro que há uma linha muito tênue entre as necessidades da gravadora, a obrigação da imprensa e o jabá puro e simples.
E como todo mundo no esquema do jabá tem rabo preso, ninguém nunca assume nada.
Quer dizer, se o jabá realmente existiu, ninguém nunca provou. Só para efeito de discussão, vamos assumir que jabá realmente sempre existiu e costuma determinar pelo menos 80% do que você ouvia no rádio.
Isso explicaria porque três pessoas me disseram na semana passada que, oficialmente, o jabá não existe mais.
Tenho confirmação de dois executivos de gravadoras e um de rádio que, desde o dia 1º de junho o jabá está cancelado em todas as rádios do Brasil.
Inclusive o que costumava entrar por vias legais, através de anúncios (com exceção dos contratos pendentes).
Ouvi duas explicações para essa suposta ``morte do jabá". Certamente não são as únicas. Uma é culpa da rédea curta na distribuição de verba publicitária.
Quer dizer: conforme a verba publicitária das rádios caiu, elas passaram a depender mais das gravadoras.
Segundo disse um dos executivos, ``as rádios foram com muita sede ao pote", justamente em um momento em que as gravadoras não tinham caixa.
Sim, as gravadoras venderam muito no último ano. Só que não estão conseguindo receber.
Outra explicação, essa dada por um cara aqui de São Paulo: o ``efeito Banguela".
A gravadora dos Titãs conseguiu emplacar certas faixas no rádio só na base da brodagem, sem dinheiro.
Ficou claro para todos que era possível tocar uma música em todas as grandes FMs sem jabá nenhum.
O divertido é que esse ``embroglio" acontece em um momento em que acontece um grande rearranjo de forças entre as rádios jovens de todo o Brasil.
Muita rádio que vivia de dance music está indo para o pop rock. E muita rádio que estourou com o novo samba começa a entrar em uma curva descendente.
A questão é se o jabá acabou de vez, ou se o que está acontecendo é uma moratória. E como isso vai afetar o nosso dial. Isso, supondo que o jabá realmente existiu antigamente.
Questão interessantes para você ficar encanado na próxima que ligar o rádio.

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