São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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DRUGSTORE COWGIRL

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano passado, a revista Melody Maker escolheu o single Alive, da banda inglesa Drugstore, como um dos melhores do ano. As boas críticas levaram o Drugstore a abrir os shows de Lemmonheads e Smashing Pumpkins.
Por trás das guitarras distorcidas e das letras que falam de tédio, está a paulistana Isabel Monteiro, 30, baixista, cantora e responsável pela maioria das letras da banda.
O primeiro disco, Drugstore, saiu este ano pela Go! Discs. A Polygram, que representa a gravadora no Brasil, promete para julho o lançamento por aqui.

Folha - Como o Drugstore começou?
Isabel - Passei três anos entrando e saindo de banda, sem encontrar uma coisa que me inspirasse a ficar. Nesse meio tempo, encontrei com o Michael Chylinski, que é o nosso baterista atual. Com ele, desenvolvi a idéia de fazer nossa própria banda.
Folha - A banda foi comparada pela crítica inglesa ao Jesus and Mary Chain...
Isabel - Adoro Jesus and Mary Chain. Acabamos de ser convidados para tocar com eles na próxima semana aqui em Londres. Eu ouvi dizer que eles gostam muito da nossa banda, estou super orgulhosa. O Mary Chain, o Velvet Underground são influências, mas eu acho que o jeito como o Mary Chain transmite emoção é muito comportado, eles são uma banda muito inglesa. Nós somos muito mais emotivos.
Folha - No disco, há músicas com até três guitarras. Como funciona ao vivo?
Isabel - Essa é uma das dificuldades que a maioria dos trios como nós, encontram ao vivo. Tem sempre um solo de guitarra que não dá para o cara fazer ao vivo, mas a energia é muito maior.
Folha - O fato de você ser brasileira influencia você?
Isabel - Totalmente. A banda no palco deve ser uma reflexão da nossa personalidade. Sou brasileira, muito emotiva, muito emocional, muito briguenta.
Folha - Como começou a compor em inglês?
Isabel - Não faço idéia. Quanto mais eu morei por aqui, mais o inglês começou a fazer parte de mim, da minha língua. Me sinto confortável tanto em inglês, quanto em português.
Folha - Como era sua vida?
Isabel - Classe média-alta, vida burguesa, sem-graça. Sempre fui ovelha negra da minha família. Tive alguns empregos que não duraram muito, comecei a universidade no curso de tradutora intérprete e larguei, não gostei. Me casei com 17 anos e meu marido morreu num acidente de carro. Minha vida é muito complicada. Morei na praia, morei em ilha deserta...
Folha - Como foi sua chegada na Inglaterra?
Isabel - Eu tinha uma colega de faculdade e de repente as duas se encheram da faculdade e dissemos, vamos para a Inglaterra que vai ser muito mais divertido, viajar e foi nessa a gente veio para cá. Trabalhei em todos os empregos que você possa imaginar. Fui faxineira, dançarina, camareira, garçonete, barwoman. Meus empregos melhoram com meu inglês. Acabei de gerente de um bar.
Folha - E foi mais divertido trabalhar de garçonete?
Isabel - Nunca liguei muito para minha vida burguesa. Mesmo quando eu tinha as maiores mordomias, como motorista, eu morava na praia na maior pobreza. Eu não sou muito ligada a essas coisas. Talvez porque eu sempre tive. Para mim, valor tem você fazer o que quer.

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