São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Sindicalismo e poder operário

FLORESTAN FERNANDES

Os debates que se seguiram à greve dos petroleiros geraram muitas controvérsias. Mesmo sindicalistas competentes e analistas com experiência emitiram opiniões que ficaram aquém de uma situação histórica em transformação. Antonio Carlos Spis foi o único que assinalou o ponto crucial: o processo de ruptura entre um passado recente e o presente em ebulição. O futuro será diferente e o grau de diferenciação vai depender da dinâmica de incorporação da economia aos padrões vigentes nos centros imperialistas.
A referência mais importante para nós está nos EUA, embora a Europa integrada e o Japão demonstrem o quanto é inevitável a implantação dos modelos neoliberais no Brasil. Estes compreendem um relacionamento duríssimo das empresas gigantes com a força de trabalho.
Os sindicatos norte-americanos aceitaram ou se tornaram cúmplices da alienação dos trabalhadores numa escalada imprevista. Ao mesmo tempo, para se acomodarem com as menores perdas possíveis em um período de recessão brutal e redução de empregos, submeteram-se à lógica do patronato e, indiretamente, ao egoísmo dos cidadãos de primeira classe. Inflação e recessão foram submetidas a controles instáveis. A acefalização dos sindicatos e o eclipse do poder operário continuam provocando desgaste estarrecedor.
Esse será o nosso cenário, nos anos vindouros, graças às técnicas e padrões de dependência que serão impostos ao país no ciclo em que a economia brasileira já penetrou.
É previsível que os ritmos de implantação serão mais lentos que nos Estados Unidos, Europa integrada e Japão. Aqui, o capital externo ainda procura investimentos de flibusteiros. Todavia, parece algo indiscutível que ele modificará o seu curso, na medida em que se encaminhará para a produção industrial e serviços.
O espaço político dos trabalhadores e centrais operárias -especialmente da CUT e, por conseguinte, do PT- tenderá a diminuir.
Os petroleiros partiram de um acordo relegado e chegaram a uma greve de proporções consideráveis, que exigiu muita organização e tenacidade. Cometeram erros de avaliação das reações circulares da população, da mídia e, principalmente, da Justiça do Trabalho e do governo.
Tudo isso é secundário, pois travaram embates que visavam a uma política ofensiva e autodefensiva de seus interesses e de todos os trabalhadores, em face dos prognósticos sobre os próximos decênios.
A tecnologia de ponta ainda ensaia um salto decisivo e as técnicas administrativas também só se alteraram parcialmente. Todavia, com o tipo de oligopólio que se implantará no ciclo econômico que se delineia, a composição do capital se modificará profundamente, engendrando crises de envergadura desconhecida.
Sindicatos e trabalhadores perderão a autonomia conquistada e empregos, com violentas diminuições dos salários e o naufrágio do poder relativo de que hoje desfrutam.
Por isso, aceitaram uma batalha áspera visando resguardar interesses de classe e sua capacidade de luta.

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