São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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A Suécia não é aqui

JOSÉ EDUARDO CARDOZO
Os meses de inversão térmica estão chegando. Nessa época do ano, a poluição torna-se visível, quase sólida. Como ecologia rende espaço na mídia e votos nas urnas, foi dada a largada para a apresentação de "idéias geniais".
Só assim pode ser classificada a proposta do presidente da São Paulo Transportes (antiga CMTC) de substituir a frota de ônibus a diesel por trolebus.
É estranho que só agora, passados dois invernos desde que o atual prefeito tomou posse, só uma medida tenha sido anunciada para amenizar tais problemas. Mas não sejamos intolerantes.
Reconheçamos que, embora a substituição dos ônibus a diesel pelos trolebus seja a melhor solução ecológica, ela demanda altos investimentos, com retorno de médio e longo prazos, que o setor privado só faria se vivêssemos na Suécia. Mas a Suécia não é aqui.
Mas o prefeito de São Paulo, seguindo orientações de seus "marketeiros", foi além: declarou que o diesel seria substituído pelo gás natural.
O que Maluf não explicou é por que, até agora, nada foi feito para dar continuidade ao cumprimento da lei 10.950 e à política adotada pela gestão Erundina sobre o aumento da frota de ônibus a gás.
Essa lei, aprovada em 1991, diz que, no prazo de dez anos, as empresas concessionárias ou permissionárias de transporte coletivo deverão substituir os ônibus ou motores movidos a diesel por outros, movidos a gás natural.
Na administração anterior foram comprados à vista -sem dívidas- 60 novos ônibus a gás e convertidos outros sete. Foram também feitos investimentos de US$ 2 milhões nas adaptações necessárias na garagem Araguaia (da antiga CMTC) e na construção do posto de abastecimento a gás da Água Branca.
No final de 1992, esse posto alcançou capacidade para abastecer 250 ônibus. No orçamento para 1993, foram destinados recursos para a aquisição de aproximadamente 150 novos coletivos a gás.
De janeiro de 1993 até hoje, a frota de ônibus não foi ampliada em nem sequer um único veículo a gás. Se Maluf realmente tivesse determinação para reduzir a poluição dos ônibus, era só estabelecer um cronograma para cumprimento da Lei 10.950. Não o fez porque não quis.
O prefeito deveria saber que a poluição do ar provoca bronquite e pneumonia, especialmente na população mais carente, sem acesso à alimentação e à medicina preventiva. É questão de saúde pública e não estratégia de marketing.

JOSÉ EDUARDO CARDOZO, 36, é vereador pelo PT em São Paulo e professor de direito da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

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