São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma rota longa demais

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os homens discutem e os bits viajam. O diretor técnico do Ibase, Carlos Afonso, fez uma experiência interessante: traçou o caminho entre o computador da RNP no Ibase (Botafogo, Rio de Janeiro) e o computador do serviço Infoserv da Embratel (av. Presidente Vargas, Rio de Janeiro).
A pesquisa mostrou um caminho labiríntico por 14 computadores ligados à Internet, indo do Rio a São Paulo e de lá aos EUA, de onde foi devolvida ao Rio. Número de computadores norte-americanos envolvidos na operação: nove.
Afonso disponibilizou o resultado do "traceroute (comando que traça o caminho de "pacotes de dados na Internet) numa conferência pública na Internet. E acrescentou: "Com esse tipo de diálogo, vamos mal... Cara Telebrás, vamos todos trabalhar juntos, ou a coisa não vai sair mesmo! E aí é que as multinacionais cairão matando...
O problema técnico espelha uma dificuldade política. Computador não faz mágica. Se os homens não se entendem, as máquinas não vão resolver o problema sozinhas. Por que dois computadores no Rio precisam de nove nos EUA para se comunicar?
A rede brasileira está apenas começando a ser ampliada para abrigar tráfego comercial. É a melhor hora para planejá-la para funcionar da melhor forma possível. Nos EUA a Internet já tinha crescido desordenadamente quando se começou a perceber seu potencial comercial.
Aqui, onde os recursos são menores e a rede vai começar relativamente pequena, é preciso tirar o máximo dela. Não tem graça nenhuma montar uma rede brasileira e depois depender de multinacionais para operá-la com eficiência.
A Internet como apenas mais uma embalagem para grandes corporações norte-americanas venderem seu peixe é o tipo da coisa de que ninguém precisa por aqui.
Caça-níqueis
Nos EUA a Internet está servindo para outra batalha: os americanos se debatem com sua complicada moral protestante, e tentam transformar a rede num caça-níqueis seguro e inocente como a Disneylândia.
Entra na votação final hoje no Congresso americano a emenda do Senador James Exon, aquela que quer proibir o tráfego de "material obsceno na Internet.
A temperatura subiu extraordinariamente na rede esta semana, por conta disso. Há outras propostas de emenda semelhantes tramitando no Congresso. A bomba de Oklahoma levou uma senadora, Diane Feinstein, a querer proibir receitas de bombas na Internet. Engraçado que a receita da bomba de Oklahoma pode ser encontrada num simples manual de agricultura nos EUA.
Mais uma emenda, proposta pelo candidato à Presidência Bob Dole: "Proteção de crianças contra material pornográfico.
A discussão sobre liberdade de expressão parece ter atingido uma maturidade maior na Internet. Em vez de agir como um bando de radicais furiosos, os interneteiros estão apoiando a emenda do senador Patrick Leahy, que propõe um estudo sobre a necessidade de algum tipo de censura na rede, e o desenvolvimento de programas que permitam bloquear material indesejado. Mais sensato.
O caso de "Damien Starr não ajudou nada. Esse é o nome do rapaz gay de 16 anos que mandou uma passagem de ônibus para um menino de 15, Daniel Montgomery, que ele conheceu numa área de conversa o serviço America On Line. Montgomery viajou de Seattle para San Francisco para encontrar Starr, e acabou voltando para a casa dos pais no dia seguinte. Escândalo.
E boa desculpa para passar a emenda de Exon.

O e-mail de NetVox é netfolha sol.uniemp.br

Texto Anterior: Saiba quem foi Lampião
Próximo Texto: netnotas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.