São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Ex-procurador elabora dossiê sobre fraudes

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-procurador do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Paraná Petrus Emile Abi-Abib, 50, vai elaborar esta semana um dossiê sobre imóveis desapropriados no Estado com documentação irregular.
Ele não concordou com sua exoneração, no último dia 7, pelo novo superintendente do Incra no Paraná, Dirceu Gonçalves.
O motivo da exoneração foi dado ontem à Folha pelo presidente do Incra, o paranaense Brasílio Araújo Neto: ``Todo novo dirigente de órgão público tem o direito de escolher a sua equipe", disse.
O presidente do Incra disse que Abi-Abib continuará como procurador do órgão e foi afastado da chefia por ``questão de foro íntimo" (julgamento pessoal) do novo superintendente do órgão no Paraná, Dirceu Gonçalves.
``Essa é uma polêmica inócua pensar que ele foi afastado para favorecer falsos donos de terras", disse ele. ``Vamos contestar as desapropriações fraudulentas até a última instância judicial".
Abi-Abib está disposto a se submeter a uma investigação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e da Comissão de Ética do Incra para averiguar se cometeu erro ao contestar judicialmente superavaliações fraudulentas de imóveis.
Antes de saber o motivo de sua exoneração, Abi-Abib disse que a ação contra os falsos donos de terras poderia ter desagradado a pessoas influentes do Paraná, ligadas ao presidente do Incra.
``Como eu não sabia o motivo da exoneração, eu poderia conjecturar (fazer suposições), mas prefiro não comentar isso", disse.
No entanto, ele comentou por telefone: ``Essas pessoas influentes podem ter influenciado a questão do foro íntimo", disse.
Pelos seus cálculos, o Incra economizou R$ 780 milhões graças às ações que ele moveu, desde 1992, para impedir o pagamento de sete desapropriações de imóveis ilegais beneficiados por super-avaliações.
Fraudes
Segundo Abi-Abib, não há nenhuma intenção de criar polêmica na imprensa sobre sua exoneração. Ele afirma apenas que tem sido procurado e está explicando que seu trabalho ia muito bem e não justificava afastamento do cargo.
O ex-procurador disse que as ações contra desapropriações ilegais se referem a imóveis concedidos a pessoas inexistentes no Paraná, durante a década de 70. Os supostos proprietários que reclamaram indenizações na justiça eram apenas procuradores.
Ele explicou que tal estratégia era feita pelos grandes proprietários rurais do Estado porque as doações de terra apenas eram relativas a 500 hectares. Para concentrar propriedade, as doações eram feitas a pessoas fictícias.
Abi-Abib afirma que a Procuradoria Geral da República tem conhecimento de todas as suas ações contra desapropriações fraudulentos no Paraná.

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