São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pastor gay prega união estável entre homossexuais

defente luta contra o preconceito

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Pastor da Igreja Presbiteriana, teólogo e homossexual, o norte-americano Thomas Hanks, 60, afirma ser necessário trocar as perguntas sobre a ``questão homossexual".
``O problema não é o homossexualismo, mas a homofobia (preconceito contra homossexuais), disse." Segundo ele, a homofobia deve ser enquadrada na mesma categoria que o racismo e outras formas de preconceito.
Hanks está no Rio para participar do 3º Encontro de Travestis e Liberados e da 7ª Conferência da Ilga (Associação Internacional de Gays e Lésbicas).
Em entrevista à Folha, Hanks disse que as religiões têm uma característica em comum: nascem como libertadoras e depois se consolidam como repressoras.
A análise desta trajetória das religiões deverá ser o mote de sua participação no encontro.
Radicado em Buenos Aires, na Argentina, Hanks lidera um grupo de atendimento religioso a minorias sexuais, o Outras Ovelhas.
Esse grupo, afirmou, dedica-se ao que ele classifica de único caminho pastoral que dá bons resultados com homossexuais -o de estimular a formação de casais estáveis. Segundo Hanks, as duas outras opções de trabalho com homossexuais -a abstenção e a tentativa de mudança de orientação sexual- têm dado resultados desastrosos.
No encontro da Ilga, que começa na próxima segunda-feira, Hanks pretende falar sobre religião e solidariedade ``na perspectiva da Teologia da Libertação". Segundo Hanks, poucos teólogos enfocam as minorias sexuais.
Corrente criada por católicos latino-americanos, a Teologia da Libertação parte da interpretação da Bíblia para propor mudanças sociais identificadas com idéias socializantes.
``A Teologia da Libertação parte da análise da realidade, da prática. Como oficialmente os religiosos não têm relações sexuais, os que são teólogos se sentiram impedidos de falar sobre isto", disse.
Para ele, a castidade (proibição de se manter relações sexuais) imposta aos religiosos católicos estimula a ida de homossexuais para os seminários (centros de formação de sacerdotes).
``É mais fácil justificar a opção religiosa do que viver sem uma namorada." Segundo Hanks, cerca de 50% dos sacerdotes e, pelo menos, 70% dos seminaristas católicos são homossexuais.
Professor do Seminário Bíblico Latino-Americano, na Costa Rica, Hanks, apesar de ser pastor, não atua como pregador.
Ordenado pastor em 1962, só veio assumir sua homossexualidade em 1989 -um ano depois de separar-se da mulher, com quem estava casado havia 28 anos.
Ao declarar-se gay, Hanks não perdeu a condição de pastor. Isto porque a Igreja Presbiteriana decidiu manter como pastores os homossexuais já ordenados (apesar de não ordenar os que antecipadamente assumem que são gays).
Bem-humorado, Hanks afirmou que os homossexuais norte-americanos aprenderam a encarar de forma positiva a proibição à sodomia (relações sexuais anais) vigente em 23 Estados do país.
Segundo ele, a Bíblia classifica de sodomia a violência sexual cometida contra anjos em Sodoma (uma das cidades que, segundo texto bíblico, foi destruída devido aos pecados de seus habitantes).
``Para nós, sodomia é apenas violência sexual contra anjos."

Texto Anterior: Defesa quer expulsão de sequestradores de Diniz
Próximo Texto: Travesti diz que vai se candidatar a vereador
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.