São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Aids ajudou no surgimento de grupos gays

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Lideranças homossexuais reunidas no Rio admitem que o surgimento da Aids acabou estimulando a organização de grupos gays.
``A Aids ajudou a integrar a comunidade para se pensar o preconceito. Ajudou a dar visibilidade à homofobia", afirma Cláudio Nascimento Silva, da organização da 7ª Conferência da Ilga (Associação Internacional de Gays e Lésbicas).
Silva ressalta que, no início da epidemia de Aids, a doença chegou a ser chamada de ``câncer gay" -referência ao grande número de homossexuais contaminados.
``A situação foi meio contraditória. No início, houve um refluxo, mas depois o pessoal foi para a rua", ressalta Silva, que vive com Adauto Belarmino Alves, também militante gay e portador do vírus causador da doença.
Outra liderança de entidade homossexual, o travesti Jovana Baby, afirma que, se não fosse a Aids, seu grupo não teria ``a mínima força" -ele é presidente da Astral (Associação de Travestis e Liberados).
Segundo Jovana, cerca de 800 dos 3.400 travestis do Rio participam da Astral. A maior parte, de acordo com ele, mobilizada pelas campanhas de prevenção contra a doença.
``Quando começamos o trabalho, 15% dos travestis tinham consciência da doença. Hoje, 80% exigem uso de camisinha nas relações sexuais", afirmou.
Jovana afirma que a luta contra a Aids acabou estimulando o surgimento de outras campanhas, relacionadas à conquista de direitos civis.
A Aids facilitou até mesmo a obtenção de patrocínios para os eventos gays. As poucas verbas oficiais obtidas pela organização da Ilga vieram do Ministério e da Secretaria Estadual da Saúde. O mesmo ocorreu com o encontro de travestis promovido pela Astral.
``Para conseguirmos patrocínio jogamos com a prevenção", afirma Jovana.
(FM)

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