São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Arquipélago já tem lixão e favelas

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FERNANDO DE NORONHA

O turismo desordenado provocou o surgimento de favelas e de um lixão na ilha principal do arquipélago de Fernando de Noronha (a 540 km da costa de Recife-PE).
Em pelo menos dois pontos do arquipélago, considerado santuário ecológico, o esgoto doméstico escorre diretamente para o mar.
Exames laboratoriais já confirmaram sinais de contaminação em parte da água subterrânea que abastece a comunidade local.
Atraídos pelo turismo, os habitantes da ilha concentraram suas atenções no setor. Outras atividades econômicas, como a pesca, foram esquecidas.
Segundo pesquisa feita neste ano pela administração da ilha, existem hoje em Fernando de Noronha dez agricultores e 33 pescadores. Dos 1.908 habitantes da ilha, 1.155 chegaram nos últimos sete anos. Só 26,3% do total de moradores são nativos.
Sem um controle migratório capaz de ordenar o fluxo de turistas, o arquipélago foi ocupado por ex-moradores de 21 Estados brasileiros.
O crescimento desordenado da população ameaça agora com um colapso os sistemas de abastecimento de água e energia elétrica.
Há falta de moradias e, segundo o administrador da ilha, Elias Gomes, 30% da comunidade vivem atualmente em situação precária.
Prédios históricos, como o antigo presídio, viraram cortiços. Pequenas favelas surgiram em seis pontos do arquipélago.
``Quando sai uma família, chegam cinco", reclama o aposentado Nivaldo Santana, 65, que mora em Fernando de Noronha há 37 anos.
Com o aumento do fluxo turístico, 105 das 403 moradias da ilha transformaram-se em pousadas. Apenas 47 estão legalizadas.
Até mesmo a residência oficial da administração do arquipélago virou pensão por um ano.
O governo só retomou o imóvel há seis dias, depois de entrar na Justiça.
Apesar do crescimento da população, disse Elias Gomes, o lixo produzido no arquipélago nos últimos dois anos ainda não foi recolhido.
Uma área localizada a 600 metros do mar transformou-se em lixão e abrigava até a semana passada 700 toneladas de detritos.
A usina que transforma os restos em adubo não funciona e só na semana passada um navio começou a levar o lixo em partes para o continente.

O jornalista FÁBIO GUIBU viajou para Fernando de Noronha a convite da administração do arquipélago.

A colunista Barbara Gancia, que escreve neste espaço às quartas e sextas-feiras, está de férias.

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