São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Autor gostava de política, jazz, tango e boxe

DA REPORTAGEM LOCAL

Julio Cortázar nasceu em Bruxelas (Bélgica) em 1914 e morreu em Paris, nacionalizado francês, em 1984. Nunca foi, entretanto, senão um escritor argentino.
Em sua variada obra, destacam-se o romance ``O Jogo da Amarelinha" (1963), considerado pela crítica um dos livros centrais da ficção latino-americana, e os volumes de contos ``Bestiário" (1951), ``As Armas Secretas" (1959), ``Todos os Fogos o Fogo" (1966) e ``Octaedro" (1974).
Mas os interesses de Cortázar não se limitavam à literatura. Estendiam-se à política (a militância de esquerda inspirou o romance ``O Livro de Manuel", de 1973), ao jazz, ao tango e ao boxe -temas de alguns de seus mais notáveis relatos.
Sua adesão à revolução cubana e ao movimento sandinista na Nicarágua lhe valeu muitas críticas de intelectuais anticomunistas, mas seu engajamento político nunca implicou a instrumentalização de sua literatura, nem o abandono da experimentação estética.
Além de tentar vários gêneros (publicou também ensaios, poemas e ``miscelâneas"), Cortázar fez sua ficção transitar por vários registros e estilos, combinando frequentemente o fantástico e o realismo em suas histórias, que ora são narradas em primeira, ora em terceira pessoa.
Depois de ter sido professor secundário na Argentina, Cortázar foi viver na França em 1951, trabalhando como tradutor e intérprete para a Unesco. Nunca mais voltou a morar na Argentina, mas se recusou a escrever em francês -e considerou-se sempre argentino.
Escreveu praticamente toda a sua obra morando na França. O único livro que publicou antes de sair da Argentina foi o poema dramático ``Los Reyes" (1949), inspirado no mito do Minotauro.
Se tivessem sido publicados em sua época, ``El Examen" seria o primeiro romance e ``Diario de Andrés Fava" a primeira miscelânea de Cortázar.
Aos 67 anos, o escritor fez com sua segunda mulher, a canadense Carol Dunlop, uma viagem ``experimental" pelo sul da França, dormindo numa Kombi na beira da estrada Paris-Marselha. A experiência foi relatada no livro ``Os Autonautas da Cosmopista".
Numa passagem do ``Diario de Andrés Fava", Cortázar lamenta a ``leucemia" que debilita a vitalidade da linguagem. Ironicamente, ele morreria de leucemia quase meio século depois, em Paris.

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